O esforço do presidente Jair Bolsonaro (PL) para minar a credibilidade das urnas eletrônicas ganhou força na campanha eleitoral de 2018 e atravessou o seu governo. Desde que se mudou para o Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo tenta convencer a população, sem mostrar provas, de que o sistema pode ser fraudado. Mas houve um tempo em que o capitão reformado do Exército defendeu com afinco a informatização das urnas.
Em 1993, quando estava em campanha para se reeleger deputado federal pelo PPR e tentava articular uma chapa de candidatos militares, Bolsonaro defendeu com veemência a informatização do sistema de apuração, justamente para prevenir fraudes. Na época, os eleitores ainda votavam em cédulas de papel. As urnas eletrônicas só seriam adotadas nacionalmente nas eleições municipais de 1996.
“Esse Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000”, gritou o parlamentar, em encontro no Clube Militar, no Centro do Rio, segundo reportagem da edição de 21 de agosto de 1993 do “Jornal do Brasil”.
De acordo com a a matéria, resgatada pela revista “Época” em 2018, havia cerca de 50 militares reformados na reunião, convocada para definir estratégias para “salvar o Brasil”. O sentimento ali era de que o país precisava de mais militares no comando. Mas havia divergências sobre como a turma da farda, que deixara o governo com o fim do regime militar, em 1985, retornaria ao poder. Enquanto uns acreditavam na via democrática, outros enxergavam na eleição um sistema “viciado”.
“Independente das pequenas divergências, nós já somos uma força política e estamos crescendo. Não queremos o golpe. Mas eles nos temem”, disse o general da reserva Euclydes Figueiredo, irmão do também general reformado João Figueiredo, último presidente da ditadura militar.
O uso da urna eletrônica estava em análise e foi testado pela primeira vez na eleição de 1994, em cinco seções eleitorais, em Florianópolis. Após auferir o resultado em cinco minutos (seriam três horas com cédulas de papel), o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sepúlveda Pertence, declarou a jornalistas: “A sensação é de alegria, de quem começa a ver o funeral do atraso e da fraude”.
Em 1995, houve ainda mais um teste, no plebiscito sobre a emancipação de Búzios, cujos moradores decidiriam se tornar o município deveria se tornar independente de Cabo Frio, na Região dos Lagos, no Estado do Rio. O resultado da votação foi auferido apenas seis minutos após o encerramento do pleito, com 4.277 votos a favor da emancipação e apenas 118 contra.
Já em 1996, brasileiros de 57 cidades tiveram o primeiro contato com a urna eletrônica. Nas eleições municipais daquele ano, os votos de mais de 32 milhões de pessoas, o equivalente a um terço do eleitorado da época, foram registrados por cerca de 70 mil urnas eletrônicas. Quatro anos depois, em 2000, aconteceu o primeiro pleito totalmente informatizado do Brasil.