As bicicletas elétricas estão em alta. 2021 deve fechar como o ano com mais vendas desse veículo de mobilidade no Brasil.
Mas o que diz quem faz uso uma bike elétrica? O g1 ouviu as experiências de ciclistas que aderiram ao seu uso.
No lugar de carros
Dados obtidos pelo g1 mostram crescimento de 24,5% na produção e importação das bikes elétricas, entre janeiro e agosto desse ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Foram 26.671 unidades nos primeiros 8 meses de 2021.
O levantamento é da Aliança Bike, associação brasileira de empresas do setor de bicicletas. A previsão é de alta de 34% para as bikes elétricas ao final de 2021, o que será o recorde do setor — total de 43 mil unidades.
A entidade ainda não acredita que alta nos combustíveis tenha impacto na procura por bikes elétricas, mas aponta que, mesmo antes antes da gasolina estar nas alturas, 56% dos ciclistas com bikes elétricas usavam carro para se deslocar.
Exercício depois de superar câncer
Após passar por um período difícil de sua vida, a psicóloga Erika Kuzniek, de 49 anos, encontrou na bicicleta elétrica uma maneira de se exercitar.
“Fiquei doente um tempo, e para me recuperar precisei pegar de novo um condicionamento físico. A bicicleta elétrica foi muito boa para mim”, explica Erika, depois de se curar de câncer de mama.
Mas como se exercitar se é elétrica? Na verdade, as bicicletas elétricas não têm acelerador, a energia serve como um assistente durante as pedaladas, deixando-as mais levinhas (veja mais detalhes abaixo).
“É muito legal para quem está começando, um estímulo, fica mais divertido. É como se tivesse uma ‘mãozinha’ empurrando”, fala Erika.
A psicóloga de São Paulo sentiu os efeitos do tratamento contra o câncer, e os exercícios eram requisitos para a recuperação, mas não poderia “pegar muito pesado”. “Comecei a andar de bicicleta elétrica por causa do câncer. Tem uma ligação direta. Eu sempre gostei de andar de bicicleta, mas precisava de algo mais leve depois da doença”, conta.
Ela ressalta, no entanto, que é preciso atenção no pedalar. “Algumas vezes você vai pedalar em uma curva, e vem um empurrão. Então é importante diminuir a velocidade”.
Pegou ‘emprestado’ da mãe
Um belo dia o empresário José Leonardo Mendes, de Morretes (PR), resolveu presentear a mãe com uma bicicleta elétrica. Mal sabia ele que a bike seria usada por várias pessoas da família.
“Minha mãe tem 72 anos hoje, a gente queria que ela conseguisse acompanhar meu pai nas pedaladas, e com a bicicleta elétrica ficou mais tranquilo para ela”, lembra.
Isso foi em 2013, e a família ainda tem a bike. Ele, a esposa e a mãe ainda usam o modelo.
“Em dias muito quentes aqui em Morretes (PR), a gente usa a bicicleta elétrica para não chegar suado ao trabalho”, diz José.
Para ele, uma das desvantagens é o valor de reposição da célula de bateria da bicicleta. “Acabamos precisando trocar [a bateria], e pagamos R$ 1.300. Mas dura uns 5 anos”, diz.
“Mesmo assim acaba sendo mais barato do que outras opções de transporte.”
Começou alugando
Os valores das bicicletas elétricas ainda são altos no Brasil. Modelos de marcas mais estabelecidas, com serviço de assistência técnica, não saem por menos de R$ 5.500. Também existe a possibilidade de colocar um kit nas bikes comuns, transformando ela em uma elétrica, ao valor de mais de R$ 3.000.
Para fazer um teste antes de ter a própria bike, o economista Antônio Paulo Conde, de 45 anos, acabou escolhendo um serviço de assinatura para poder ir ao trabalho em São Paulo.
“Por causa do trânsito ruim, resolvi experimentar ir de bike”, relembra. “Fiquei com a alugada por um mês, mas depois acabei comprando um kit elétrico instalando em minha bicicleta normal”.
Essa mudança na vida de Antônio foi em 2016, quando andar de bicicleta não era tão comum na cidade. “Quando comecei, era uma exceção. Depois vieram mais ciclofaixas e ciclovias”.
Além de agilizar a ida ao trabalho, a bicicleta elétrica era sua “academia”. “No final do dia, eu desligava o motor e ia pedalando sem ajuda”.
Depois que mudou de emprego, Antônio não usa mais a bicicleta elétrica para ir ao trabalho por conta da distância. “Deixei guardada e começou a dar uns problemas. A manutenção de bicicleta elétrica não é tão simples”, opina.
“Estou esperando voltar a vida normal (por causa da pandemia) para usá-la mais.”
Motivos da alta nas vendas
Para Daniel Guth, presidente da Aliança Bike, as bicicletas elétricas estão ganhando mais adeptos por alguns fatores. Um crescimento orgânico acontece por conta dos próprios usuários que indicam para amigos e conhecidos, por exemplo.
“As empresas também estão ofertando mais modelos com o passar dos anos. Existem opções de entrada, mas também as mais especializadas, como as de mountain bike e ciclismo de estrada. Cada vez temos mais empresas e mais ofertas”, afirma.
Mesmo com o crescimento, as bicicletas elétricas ainda representam apenas 1% do total de bicicletas no Brasil, explica Guth. São cerca de 120 mil de bikes elétricas. “Em uma pesquisa que fizemos, o consumidor diz que o valor ainda é impeditivo”, afirma Guth.
Para a Aliança Bike, o alto valor do veículo está ligado a tributação. “Mesmo que tenha maior escala, a bicicleta elétrica ainda será muito mais cara do que o mercado é capaz de absorver”.
“Somente o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é de 35%”, diz Guth.
Bicicleta elétrica não pode ter acelerador
Para ser considerada uma bicicleta elétrica e poder rodar nos mesmos lugares que uma bicicleta convencional, como nas ciclovias e ciclofaixas, o modelo tem que seguir as seguintes regras:
Não ter acelerador.
Motor só pode funcionar quando o ciclista pedala.
Velocidade máxima de 25 km/h.
Potência máxima de 350 Watts.
Os veículos que não se encaixem nessas regras são equiparados aos ciclomotores — que são aquelas motos com motor de até 50 cm³.
Nesse caso, por exemplo, se a bicicleta tiver um acelerador manual deverá seguir as mesmas regras que as “cinquentinhas”, ou seja, precisa ser emplacada, o condutor tem que ter CNH (Carteira Nacional de Habilitação) específica e não pode rodar em ciclovias.
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