Alta taxa de letalidade expõe problemas e medo de servidores na Santa Casa de Corumbá

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Faixa fixada na frente da faixada da Santa Casa de Corumbá em memórias aos profissionais de saúde que perderam a vida durante a pandemia / Foto: Weber Reis

Na Rua 15 de Novembro, a Santa Casa de Misericórdia de Corumbá se destaca pela estrutura debilitada e uma faixa na entrada em que a enfermagem dá voz ao luto. Já a cidade se “destaca” no mapa estadual do novo coronavírus pela taxa de letalidade de 3,7%, a maior no comparativo entre as grandes cidades, à frente de Campo Grande (1,5%), Dourados (1,3%), Três Lagoas (1,9%) e Ponta Porã (2,7%).

“Mas por dentro é pior do que por fora. É péssima mesmo. Fizeram quatro anos de intervenção e se você buscar no plano de ação, não tem intervenção na estrutura do hospital”, afirma a presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), Helena Delgado, sobre a realidade da unidade hospitalar.

Já a faixa “A enfermagem de Corumbá está de luto” é para denunciar que a cidade tem sido uma das mais perigosas aos profissionais da enfermagem, foram duas mortes.

No último dia 10, a covid-19 matou o técnico de enfermagem Jovelino Lopes, de 55 anos. Em junho, a técnica de enfermagem Rosimeire dos Santos Ajala, 44 anos, foi vítima da doença. Ela tinha comorbidades, mas seguiu trabalhando na linha de frente.

“Os funcionários com comorbidades não foram afastados e assinaram termo assumindo a responsabilidade de permanecer na linha de frente. Era sai ou assina”, diz Helena.

Com data-base em maio, os trabalhadores da enfermagem “ganharam” proposta de reajuste zero. “Justamente num período em que estão mais expostos, na cidade com uma das maiores taxa de letalidade no Estado e maior número de adoecimento entre os profissionais da enfermagem, eles ofereceram índice zero para a categoria”, afirma a presidente do sindicato.

Aberto em 1912, o hospital atendia pessoas carentes, sem condições de viajar ao Rio de Janeiro ou Buenos Aires,  a partir do Rio Paraguai.  Há anos está sob intervenção da administração municipal. O presidente da Junta Interventora é Eduardo Iunes, irmão do prefeito Marcelo Iunes (PSDB).

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Área externa de setor que, por falta de estrutura, abriga patologias do trauma, clínica médica e clínica cirúrgica. (Foto: Direto das Ruas)

Infecção cruzada 

A Santa Casa de Corumbá também sofre críticas pelo manejo dos pacientes devido à risco da infecção cruzada, ou seja, a contaminação por covid-19 entre os atendidos.

A reportagem apurou que um dos setores, chamado de Sb8, está recebendo todos os casos de trauma (fratura), clínica médica e clínica cirúrgica. Mas sem o manejo correto, paciente com a covid-19 acaba internado com os demais. Nesse setor, onze profissionais da enfermagem se infectaram com o novo coronavírus.

O espaço físico da unidade hospitalar também estaria reduzido por obras, iniciadas em abril, já na pandemia, com pacientes abarrotados no setor Sb8. A obra é de pintura e de trocas de portas.

Comitê luta contra o vírus e o silêncio – Lançado em 24 de junho, o Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia está atento aos números da taxa de letalidade na cidade, mas ainda não conseguiu levar o secretário de Saúde e o prefeito para dialogar com o grupo, que representa 30 entidades e movimentos sociais.

O secretário Rogério Leite enviou representante, mas o comitê tem dúvidas que só podem ser esclarecidas pelo titular da pasta. Uma das questões levadas ao comitê, é de que o hospital não teria nem fonte de energia elétrica suficiente para manter todos os equipamentos. Outra dúvida é se há necessidade de ativar um hospital da campanha no município.

Um cenário também identificado pelo grupo é falta de campanhas pró-isolamento social.

A máscara é de uso obrigatório, mas a exemplo de outras cidades, o mais comum é vê-las a passear no queixo, pescoço ou nas mãos das pessoas. O intuito do dispositivo é ser usado cobrindo boca e nariz.

Um novo decreto da prefeitura de Corumbá liberou o funcionamento do comércio varejista das 8h as 18h durante a semana, antes as portas eram fechadas às 16h. O toque de recolher começa às 21h. A rodoviária segue fechada.

Os números

Além da alta taxa de letalidade entre as grandes cidades, Corumbá tem a maior “taxa de positividade” na testagem do drive-thru, serviço oferecido também em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.  A taxa corumbaense é de 19,4%.

De acordo com o boletim divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde,Corumbá registrou 79 óbitos por covid-19. Segundo o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, há grande preocupação com a taxa de letalidade em Corumbá.

Campo Grande News  também solicitou informações por email à prefeitura de Corumbá e à Santa Casa, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.

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