Seções eleitorais são incendiadas na Bolívia após apuraçao indicar vitória de Evo Morales

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Manifestantes da oposição a Evo Morales colocaram fogo em seções eleitorais em Sucre na noite de segunda-feira (21) — Foto: Jose Luis Rodriguez / AFP
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  • Post publicado:22 de outubro de 2019

Milhares de pessoas foram para as ruas de diversas cidades da Bolívia na noite desta segunda-feira (22) para protestar enquanto uma apuração preliminar apontava que Evo Morales tinha vantagem suficiente para garantir a sua reeleição ainda no primeiro turno. Apoiadores de Carlos Mesa denunciam uma suposta fraude nas apurações. Houve relatos de confrontos em Sucre, Oruro, Cochabamba e La Paz, entre outras cidades.

Uma contagem preliminar, que tinha sido interrompida na noite de domingo (21), foi retomada na segunda e chegou a apontar uma vantagem suficiente para garantir a vitória de Morales no primeiro turno, mas depois a vantagem diminuiu. Até as 22h45 (horário de Brasília) o resultado ainda era incerto, mas os apoiadores de Carlos Mesa foram às ruas para protestar.

Na Bolívia, um candidato pode ser declarado vencedor no primeiro turno se tiver 50% dos votos mais um, ou se tiver 40%, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Às 22h45, com 95,63% dos votos apurados na contagem preliminar, Evo Morales tinha 46,4%, e Carlos Mesa aparecia com 37,07%.

Já no sistema de contagem voto a voto, mais lento, no mesmo horário haviam sido apurados 89,40% dos votos, com Mesa liderando, com 42,29%, enquanto Morales tem 42,04%. O candidato opositor Carlos Mesa já declarou que não reconhecerá os resultados de uma apuração fraudada.

“Não vamos reconhecer estes resultados, que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e que está colocando a sociedade boliviana em uma situação de tensão desnecessária”, declarou Mesa a meios de comunicação de Santa Cruz, no leste do país.

O tribunal eleitoral “fraudou a apuração e deu 10 pontos de diferença [para Morales]. Agora imagino que vão aumentar isto, consumando a fraude, consumando um roubo eleitoral inaceitável”, denunciou Mesa.
A apuração continua e as autoridades governamentais fizeram um apelo para que se aguarde o resultado final.

Dois sistemas de contagem

O clima nas ruas se deteriorou depois que o sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares, batizado de Trep, teve o serviço suspenso no domingo no momento em que a contagem individual de votos começou a dar resultados muito distintos das atas de mesa da eleição. O ministro das Comunicações boliviano, Manuel Canelas, afirmou que o órgão eleitoral errou ao não deixar claro que havia duas contagens simultâneas.

“Uma vez que percebeu que a contagem dos votos estava dando outro resultado, [o órgão eleitoral] resolveu interromper a das atas, para não causar confusão, e não explicou isso direito. Mas foi um erro, porque está dando espaço à oposição para dizer que houve uma fraude”, reconheceu.

A incerteza provocou temores entre observadores e diplomatas sobre possíveis manipulações dos votos para evitar um segundo turno e provocou inquietação sobre o que poderia ocorrer no país.

A Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou um grupo de observadores, manifestou “profunda preocupação e surpresa” com o que chamou de “mudança drástica e difícil de justificar na tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das urnas”.

O chefe da missão da OEA, Manuel Gonzáles, afirmou que a alteração no resultado é inexplicável, modifica o destino das eleições e gera perda de confiança no processo eleitoral. “Pedimos à autoridade eleitoral para que defenda decididamente a vontade dos cidadãos bolivianos, com respeito à Constituição, de forma ágil e transparente.”

Brasil, Argentina e Estados Unidos também expressaram preocupação com a interrupção da divulgação oficial de resultados.

Protestos

protesto
Policial joga spray de pimenta em apoiador do principal candidato presidencial da oposição a Evo Morales, Carlos Mesa, durante protesto em La Paz, na Bolívia — Foto: Jorge Bernal / AFP

Uma multidão enfurecida incendiou a fachada da sede do tribunal eleitoral da cidade de Sucre, 700 km a sudeste de La Paz, em meio aos gritos de “fraude!”, fazendo a polícia de choque recuar.
Após afugentar a polícia, os manifestantes ocuparam o acesso ao tribunal eleitoral, abandonado pelos funcionários, revelou o site do jornal “Correo del Sur”, de Sucre.

Em Oruro (sul), centenas de jovens tentaram ocupar a sede do tribunal eleitoral, mas foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo pela polícia de choque, segundo o portal Doble Impacto. Em Cochabamba (centro), manifestantes romperam o perímetro de isolamento do local da apuração, mas foram finalmente contidos pela polícia, revelou o jornal Opinión.

Coletivos de Potosí (sudoeste) também se mobilizaram contra a suposta fraude na apuração.
Em La Paz, grupos de opositores protestavam nas ruas e acusavam o tribunal eleitoral de fraudar a apuração para beneficiar Morales, enquanto partidários do presidente comemoravam sua reeleição no primeiro turno. Houve confronto entre opositores e a polícia.

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