Filho e primo do governador de MS viram réus em processo de roubo de suposta propina

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  • Post publicado:23 de setembro de 2019

Mato Grosso do Sul  (MS)- O advogado Rodrigo Souza e Silva, de 30 anos, filho do governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), e o sargento da Polícia Militar, Hilarino Silva Ferreira, motorista da Casa Militar e primo de Azambuja, se tornaram réus em processo de roubo qualificado de uma suposta propina.

A propina, segundo a investigação da Polícia Federal, seria destinada a José Ricardo Guitti, o Polaco, que estaria chantageando o governo. Detalhes da investigação obtidos pelo Fantástico revelam outra grave suspeita, um plano para matar Polaco.

A defesa de Hilarino Silva Ferreira disse que não teve acesso integral ao processo e que, por isso, não ira se manifestar. Já o advogado do filho do governador, Gustavo Passarelli, rebateu as acusações tanto do roubo quanto do plano para matar Polaco. “Não há nenhum indício da participação do nosso cliente nesses fatos. O procedimento de investigação que foi conduzido está repleto, repleto de ilegalidade, de vícios e de arbitrariedades”.

Por sua vez o advogado de Polaco, José Roberto da Rosa, diz que o cliente não sabia do plano para matá-lo e nega que ele tenha negociado seu silencio com o governo. “Ele nega que esse valor que seria objeto desse roubo seria destinado a ele e muito menos que fosse destinado a título de propina”.

Em 2017, imagens mostram Polaco recebendo dinheiro. Ele era suspeito de receber propinas de empresários de Mato Grosso do Sul e repassar ao então governador Reinaldo Azambuja, que foi reeleito no ano passado.

Em uma deleção, Wesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS, disse que tratava diretamente com Azambuja o pagamento de propinas : “O pagamento em dinheiro em espécie, ao redor de R$ 10 milhões, pro então governador era tratado diretamente comigo. [Reinaldo Azambuja] Ele próprio”, disse o empresário em delação gravada.

O advogado Gustavo Passarelli, que também defende o governador, disse que ficou provado que o dinheiro não era para Azambuja e que a investigação foi arquivada.

Azambuja é investigado em dois inquéritos no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Um deles apura se ele recebeu pelo menos R$ 67 milhões em propinas, o que já motivou o bloqueio de imóveis do governador.

A reportagem do Fantástico perguntou ao advogado se o governador recebeu propina da JBS. “De forma alguma. Nenhuma propina. Nenhum recebimento, de valores indevidos”, afirmou.

Passarelli também negou que o governador tenha qualquer tipo de participação na história do assalto. “Nenhuma participação. Também seu filho não tem nenhuma participação”, ressaltou.

Depoimentos obtidos com exclusividade pelo Fantástico revelam que em 2017, quando o programa esteve em Campo Grande para mostrar Polaco recebendo propina, existia um certo medo dele contar tudo o que sabia. As investigações revelam que havia um plano para matá-lo antes da exibição da reportagem.

Quem conta tudo isto é Luiz Carlos Vareiro, um dos homens que teria sido contratado para matar Polaco, em depoimentos gravados em áudio e vídeo, ao Ministério Público Estadual (MP-MS) e a Polícia Federal. Ele foi preso após o roubo da suposta propina que seria destinada a Polaco.

“Uma sexta-feira antes de sair no Fantástico [em 2017] sobre o Polaco, eles mandaram a gente ir lá em Aquidauana [a 140 quilômetros de Campo Grande] e fazer um acompanhamento do Polaco. O plano era jogar o carro de Polaco para fora da estrada e depois matá-lo… Empurrar ele para derrubar ele, enforcar ele pra morrer não de bala, morrer enforcado como acidente, qualquer coisa”, diz o acusado.

Vareiro diz Polaco só não foi morto porque estava com a mulher e os filhos no carro. “Vendo tudo, aquela mulher com gurizinho, nem…Eu preferia ir preso do que….realizar”, disse nos depoimentos gravados.

Durante os depoimentos, Vareiro fez uma revelação. Um dos mandantes da “queima de arquivo” seria o terceiro sargento da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, motorista da Casa Militar e primo do governador, Hilarino Silva Ferreira.

No depoimento ao MP-MS e a Polícia Federal questionam Vareiro: Ele trabalha onde? “Trabalha na Governadoria lá…Pro governador…”É o Hilarino Silva Ferreira, pergunta na sequência quem toma o depoimento. “Isso, é esse ai mesmo”, diz o suspeito.

A investigação chegou a outro possível mandante. O advogado Rodrigo Souza e Silva, 30 anos, filho do governador Reinaldo Azambuja. “Falou pra mim assim, ó: Vamos…o Polaco…O homem tá por aqui com ele….”, diz Vareiro. Logo depois, quem toma o depoimento pergunta a ele: Quem é o homem? “Filho do governador”, responde Vareiro.

Rodrigo Souza e Silva que chegou a ser preso no ano passado na investigação sobre o suposto esquema de propina no governo, entrava de novo no radar dos investigadores da Polícia Federal.

Uma suposta tentativa de chantagem de Polaco ao governo teria levado a Polícia Federal e o MP-MS a investigarem o caso. Segundo as investigações, para não revelar o suposto esquema, ele começou a exigir dinheiro para manter o silêncio.

O silencio de Polaco custaria R$ 300 mil por mês. Dinheiro suficiente para comprar uma fazenda.

“Depois que saiu no Fantástico, o Polaco ficou escondido. Falou que queria comprar uma fazenda no Maranhão, porque se não ia abrir tudo”, diz Vareiro.

Segundo as investigações, foram pelo menos dois pagamentos de maio a novembro de 2017. Mas no terceiro pagamento houve um plano. Pagar Polaco, mas logo depois roubar o dinheiro recebido por ele e mais. “Se o Polaco tivesse era para dar sumiço nele…”, comenta Vareiro. Em seguia ele é questionado no depoimento gravado ao MP e a PF sobre o que seria “Dar sumiço” e reponde: “É matar ele”.

Para a Polícia Federal o fim principal do roubo seria o assassinato de Polaco, em uma típica ação de queima de arquivo.

O encontro para o pagamento da propina foi marcado no estacionamento de um supermercado em Campo Grande. Câmeras de segurança registraram a cena. O carro que vem buscar os R$ 300 mil chega primeiro. Polaco não veio, mandou um amigo. O segundo carro com dinheiro para ao lado. Quem dirige e entrega os valores é o sargento Hilarino Silva Ferreira, primo do governador.

Questionado sobre o assalto, Vareiro explicou no depoimento qual era a ordem. “Ele [Hilarino Silva Ferreira] falou assim só que era pra fazer o serviço bem feito que tinha muito serviço.”

Depois na estrada, cinco homens interceptaram o amigo de Polaco e levaram o carro e os R$ 300 mil, como contou a promotoria outro integrante do grupo, Fábio Augusto de Andrade Monteiro. “Eu entrei dentro do carro dele, eu peguei e falei: perdeu velhinho, nós já sabe que você tá com dinheiro.”

Os cinco executores do roubo foram presos depois que a polícia localizou o carro roubado. Quatro deles confessaram o crime. “O senhor sabe a ciência e o tamanho do problema que nós se metemos”, diz Josué Rodrigues das Neves, um dos acusados.

“Era um assalto que não ia dar em nada, porque você tava já roubando um dinheiro, que era roubado”, diz outro acusado, Vinícius dos Santos Kreff.

Além das confissões em áudio e vídeo, O Ministério Público queria mais provas de que os homens presos realmente falavam a verdade. Com a quebra do sigilo telefônico dos celulares do grupo, os peritos criaram um mapa com a localização dos suspeitos no dia do crime.

Esse mapa indicou que logo antes do roubo, o filho do governador estava em sua empresa junto com o policial militar Hilarino Silva Ferreira. O policial teria saído da empresa levando os R$ 300 mil para Polaco.

Nesta semana, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul aceitou a denúncia contra o filho do governador, que passou a ser réu. Rodrigo Souza e Silva e o PM Hilarino Silva Ferreira, primo do governador, são acusados de serem os mandantes do roubo da suposta propina.

Os dois responderão pelo roubo qualificado da suposta propina destinada a Polaco. Como o plano para matar Polaco não se concretizou, eles não foram denunciados por isso.