A divulgação da fatura do cartão corporativo do ex-presidente Jair Bolsonaro revelou gastos em torno de R$ 27,6 milhões — R$ 36,2 milhões corrigidos pela inflação — nos quatro anos de mandato. As informações foram trazidas a público após solicitação da agência de dados públicos Fiquem Sabendo e estão no site do governo federal.
A maior parte dos gastos foi com alimentação, hospedagem e transporte. Chamam a atenção os montantes e a frequência dos gastos de Bolsonaro nos mesmos locais.
A explicação para isso estaria no fato de que uma servidora se recusava a saldar com cartão corporativo as despesas com motociatas. Ela foi exonerada e, assim, Bolsonaro teria passado a driblar as regras para a utilização nessa modalidade de pagamento.
A estratégia incluiu nos roteiros dos desfiles agendas em igrejas evangélicas e cerimônias militares. Assim, bancava a estrutura de segurança dos passeios.
Cada evento com Bolsonaro demandava uns 40 seguranças. Por determinação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), se o presidente participasse de quatro eventos no dia, disporia de 160 agentes diferentes.
Cada soldado faz quatro refeições. Se fossem quatro eventos num dia e 160 seguranças, seriam 640 refeições. Isso valia para as motociatas, mesmo não sendo um evento da Presidência. As despesas eram acrescidas de transporte e pernoite.
Porém, os cartões administrados pelo GSI continuam sob sigilo. Desde dezembro de 2020, os desembolsos com parentes de Bolsonaro eram feitos pelo Gabinete. Há a suspeita de que a família era bancada com dinheiro público, até em viagens particulares. Segundo fontes, os gastos maiores eram com o vereador carioca Carlos Bolsonaro.
Relatos de pessoas que lidavam com os cartões do GSI e da Presidência afirmam que o filho 02 costumava viajar repentinamente. As despesas dele com hotéis, refeições, deslocamentos e segurança saíam do governo.
Fontes apontam episódios nos quais o filho 02 se hospedava em um hotel e os seguranças, em outro — ele queria sair sozinho, principalmente à noite, sem companhia. O clima, muitas vezes, era de constrangimento.
Estadia
Só com estadias em hotéis, Bolsonaro gastou R$ 13,6 milhões. Nas férias no Guarujá (SP), se hospedou no Ferraretto Hotel — 10 transações com um gasto total de R$ 1.466.804. Segundo levantamento do Correio, a diária custa entre R$ 450 a R$ 950, aproximadamente. Considerando uma média de R$ 700, o valor pago por Bolsonaro seria de 2.095 estadas.
Em padarias, desembolsou R$ 581 mil ao longo do mandato. Uma das filiais da rede carioca Santa Marta recebeu R$ 362 mil do cartão da Presidência. Bolsonaro também gastou cerca de R$ 313 mil em uma peixaria do Guará, em um total de 161 transações.
Em um único dia, R$ 109 mil foram gastos no Sabor da Casa, em 26 de outubro de 2021. O restaurante, em Boa Vista (RR), vendia marmitas a preço popular — R$ 17 a mais barata e R$ 23 a tradicional. O gasto de Bolsonaro daria para comprar 6.411 marmitas da mais barata, 4.739 unidades da tradicional e 2.180 da mais cara.
Naquele dia, o ex-presidente visitou um abrigo para imigrantes venezuelanos na capital roraimense. Bolsonaro almoçou com militares e também participou de um culto da Assembleia de Deus.
O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, esclareceu que “as informações divulgadas não são classificadas por sigilo, que estão sob análise da CGU (Controladoria Geral da União), conforme decisão do decreto do presidente de 1º de janeiro”.