Corumbá (MS)- A investigação da Polícia Federal referente a compra de votos e esquema criminoso gerido por integrantes da atual administração municipal, com o favorecimento ilegal em serviços públicos de saúde, exames e até oferta de marmitex, está prestes a completar um ano sem que, até o momento, ninguém tenha sido preso ou os políticos apontados como beneficiários do esquema punidos.
Com a demora da justiça em concluir o processo, um aleta emitido em parecer pela própria Polícia Federal a qual a reportagem do Folha MS teve acesso, pode, e tem fortes indícios, que venha ocorrer novamente nas eleições gerais de 2022 em Corumbá.
A prisão de um suposto servidor público municipal nesta quarta-feira (28), flagrado transportando a quantia de R$ 10 mil reais em um carro da Prefeitura de Corumbá, após denúncia de que o valor seria destinado para compra de votos no município, reforça a indicação feita pela PF no curso das investigações de 2021.
Na oportunidade, um vasto material comprobatório de que servidores municipais incluindo assessores diretos do atual prefeito Marcelo Iunes, trabalharam de forma ilegal e direta na compra de votos, foi apreendido.
Segundo a PF, eles trabalhavam em favor da reeleição do Prefeito e aliados políticos que disputavam uma vaga na Câmara Municipal, e hoje eleitos beneficiados com o esquema criminoso, integram a sua base de governo.
Áudios extraídos do celular de um dos assessores do Prefeito flagrado em posse de dinheiro em espécie envoltos em um papel com uma lista de nomes, supostamente pessoas que venderiam seus votos, mostraram com clareza e riqueza de detalhes como funcionava o esquema.
Relembre
Cestas Básicas
Conversa mantida pelo servidor, os policiais encontraram um áudio com o pedido de dinheiro para confecções de cestas básicas que seriam distribuídas às famílias selecionadas para realização da troca de votos
Voto é cinquentão por cabeça
Além do valor explicito nas conversas, o servidor cobra o parlamentar que tentava a reeleição a entregar o que chamou de “Doce das crianças”. Expressão que acredita-se ser referente a outras negociações financeiras utilizada para compra de votos.
Voto barato, seis votos por duas marmitex
As conversas mostraram que a compra de votos através do fornecimento de benefícios, chegou ao ponto de ser efetivada em troca de duas marmitex, destinadas para seis eleitores no bairro Padre Ernesto Sassida.
A conversa se deu entre o servidor que teve o celular apreendido e um outro comissionado da prefeitura que segundo as investigações, estaria à disposição de um candidato a vereador aliado ao prefeito.
No áudio, o servidor chega a debochar do preço pago pelo voto e coloca o próprio eleitor para enviar um áudio cobrando o alimento.
Exames e atendimento médico
Uma das principais “moedas de troca” utilizada para o angariamento de votos, seria o fornecimento de privilégios ao atendimento médico e realização de exames dentro da rede pública de saúde do município.
A PF indica que os envolvidos compravam os votos em troca de “exames gratuitos”, mas nas custas do SUS, ou seja, do povo. Em ocasiões em que os exames não eram ofertados na rede, entrava em cena o chamado “preço de custo” feitos através do laboratório CITOLAB.
Uma outra conversa entre o vereador e o servidor da prefeitura, fica clara a concessão de privilégio a determinadas pessoas visando o interesse em angariamento de votos mediante a utilização da estrutura municipal.
Mensagem enviada por uma servidora que na época ocupava cargo de sub-secretária deixa claro a forma de agenciamento criada para atender as demandas que eram levadas pelos vereadores que faziam parte da base aliada ao prefeito. No áudio ela enfatiza que as “bondades” só seriam concedidas através da apresentação da guia do SUS, mostrando que os benefícios eram concedidos, mas pagos com recursos públicos.
Em outra situação, um vereador solicitou ao servidor urgência no atendimento de pedidos de exames que seriam para pessoas que chamou de “Pessoal Nosso”.
O servidor responde que naquele pedido especificamente, os exames que são realizados pelo laboratório CITOLAB são gratuitos, mas que outros que precisam ser realizados fora da cidade, o esquema cobraria apenas o “preço de custo”. Na mensagem, o servidor ainda revela que Marcelo (Prefeito) seria o dono do laboratório e a pessoa responsável por autorizar a realização dos exames.