A rainha Elizabeth II, que por mais de sete décadas ocupou o trono britânico como a mais longeva monarca britânica, e se tornou um símbolo da monarquia em todo o mundo, morreu nesta quinta-feira, 8, aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, onde ela estava. O filho mais velho, príncipe Charles, e sua esposa, Camila, já são tratados como rei e rainha consorte.
“A rainha morreu tranquilamente em Balmoral nesta tarde. O rei e a rainha consorte permanecerão em Balmoral esta noite e retornarão a Londres amanhã”, confirmou a família real em uma publicação nas redes sociais.
The Queen died peacefully at Balmoral this afternoon.
— The Royal Family (@RoyalFamily) September 8, 2022
The King and The Queen Consort will remain at Balmoral this evening and will return to London tomorrow. pic.twitter.com/VfxpXro22W
Nascida em 1926, entre as duas grandes guerras, Elizabeth Alexandra Mary não deveria ser rainha. Desde cedo, a coroa não estava nos planos. Um dia, porém, foi surpreendida com a notícia de que seu tio, o rei Edward VIII, havia se apaixonado pela americana Wallis Simpson, recentemente divorciada, e deveria abdicar se quisesse se casar. A partir daquele momento, a linha sucessória colocava a pequena Lilibeth, a duquesa de York, na rota do trono.
O rei seria seu pai, George VI. Ela tinha 10 anos e sua vida mudou. “É para sempre?”, perguntou a menina quando soube que teria de se mudar para o Palácio de Buckingham. Biógrafos contam que a possibilidade de se tornar rainha aterrorizava a garotinha. “Ela costumava rezar à noite para que a mãe (a rainha Elizabeth, então com 36 anos) tivesse um menino, para que ela não tivesse de ser rainha”, lembra a historiadora Sarah Bradford. Com o tempo, ela e Margaret, sua irmã caçula, foram se acostumando com a ideia – e gostando.
A metamorfose se completou no Dia da Vitória, em maio de 1945, quando uma pessoa completamente transformada apareceu na sacada do Palácio de Buckingham. Ela tinha 19 anos, estava madura e havia deixado a imagem de menina para trás. Acenando para os súditos, ao lado do pai, Elizabeth era o futuro do Reino Unido.
Casamento
Lentamente, a tímida princesa ia caindo nas graças dos britânicos. Com seus movimentos acompanhados de perto, era inevitável que surgissem, com o tempo, as primeiras fofocas sobre quem Lilibeth levaria para o altar. Ela, no entanto, já tinha um cadete da Marinha na sua alça de mira.
Quando viu Philip Mountbatten pela primeira vez, Elizabeth tinha só 13 anos. Foi em 1939, durante visita ao Royal Naval College, em Dartmouth, acompanhando seu pai. “Ele tinha 18 anos”, escreveu a rainha, anos mais tarde, em uma carta publicada pelo tabloide The Mirror, em 2016.
Segundo a Vanity Fair, durante a visita, Philip foi convidado a tomar chá com a família real. Começava a paquera. Ele era filho de monarcas gregos, chegou a trocar cartas com a princesa durante a guerra, mas foi apenas em 1946 que pediu a mão de Elizabeth.
O casamento só foi anunciado no ano seguinte, quando o casal apareceu em público pela primeira vez. Na mão esquerda, ele levava um anel de platina com seis diamantes, o maior tinha três quilates.
A cerimônia foi realizada no dia 20 de novembro de 1947, na abadia de Westminster. O convescote foi transmitido pela Rádio BBC e acompanhado por 200 milhões de pessoas ao redor do mundo. De acordo com a realeza, foram 2.500 presentes e 10 mil telegramas saudando o casal.
O casamento de Elizabeth e Philip foi um dos primeiros acontecimentos globais que carregaram todas as características de um megaevento de celebridades. Para um país mergulhado na austeridade do pós-guerra, a festa foi um a pausa na penúria econômica. A jovem princesa rapidamente tornou-se o símbolo de uma nova geração sedenta para virar a página de um continente atormentado pela destruição.
Coroação
Elizabeth estava no Quênia, a caminho da Austrália, no inverno de 1952, quando recebeu a notícia da morte do pai. O rei não andava bem de saúde há algum tempo e ela e Philip cumpriam algumas funções reais, especialmente nas viagens longas pelo reino. “Meu pai morreu cedo. Não tive nenhuma preparação. Tive de aprender o ofício na marra”, diria Elizabeth mais tarde. “Sabia que a continuidade era importante, que era um trabalho para o resto da vida.”
Logo a rainha se acomodou ao trono. Com o tempo, além da dedicação às funções de Estado, ela ganhou fama por seu senso de humor. Dick Griffin, policial que durante anos serviu como segurança de Elizabeth, conta que ele e a rainha cruzaram certa vez com dois turistas americanos que caminhavam sem rumo pela propriedade de Balmoral, na Escócia.
“Ela sempre parava para dar um alô. Mas eles não a reconheceram”, disse Griffin, em entrevista à Skynews. Depois de alguns minutos de conversa, um deles perguntou a Elizabeth há quanto tempo ela frequentava Balmoral. “Quando a rainha disse que vinha ao castelo havia mais de 80 anos, o americano perguntou se ela já havia visto Elizabeth”, contou o policial.
“Eu não, mas o Dick aqui encontra com ela quase todo dia”, respondeu Elizabeth, para espanto dos americanos, que voltaram suas atenções para Griffin. “O senhor conhece a rainha? Como ela é?”, perguntaram. “Às vezes, ela é meio rabugenta, mas tem ótimo senso de humor”, respondeu o policial.
Outra paixão da rainha eram seus cães corgis – ela teve mais de 30, que tratou como se fossem da família. Elizabeth tinha o hábito de alimentá-los durante encontros formais, quando os biscoitinhos caninos eram servidos em uma bandeja de prata.
Segundo Robert Hardman, um dos biógrafos da rainha, em 2008, o secretário de Saúde Alan Johnson saiu do jantar maravilhado com a comida. Ele e o então representante britânico para o País de Gales, Paul Murphy, debatiam o cardápio na saída do Palácio de Buckingham. “Johnson comentou que havia amado o queijo e os biscoitos escuros”, escreve Hardman na biografia Queen of Our Times. “Paul respondeu: ‘Não, esses eram para os cachorros’.