Coronavírus avança sobre classe política, acirra ânimos e amplia debate sobre fechamento de Congressos

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  • Post publicado:11 de março de 2020

Nadine Dorries, deputada conservadora e secretária do Ministério da Saúde britânico, se tornou o mais recente caso de político diagnosticado com o novo coronavírus.

Dorries, de 62 anos, está mantida em isolamento voluntário em sua própria casa, desde a confirmação da infecção. Na quinta-feira passada, Dorries começou a apresentar sintomas de covid-19. Naquele mesmo dia, ela compareceu a um evento com participação do primeiro-ministro, Boris Johnson. O governo britânico não divulgou se o primeiro-ministro foi testado após a confirmação do diagnóstico da deputada.

Com o avanço da doença em mais de 100 países, há casos envolvendo políticos do alto escalão infectados em países como Itália, França, Espanha e Irã, onde dois parlamentares morreram.

Outras dezenas de parlamentares passaram a adotar o autoisolamento de duas semanas, tempo em que geralmente surgem os sintomas, depois de terem ido a eventos públicos nos quais estiveram outras pessoas que posteriormente foram diagnosticadas com a doença.

Entre eles estão o italiano David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, e o senador republicano Ted Cruz, nos Estados Unidos, onde nenhum político teve caso confirmado, mas vários adotaram quarentenas voluntárias.

Debate político

A gravidade real do surto e a severidade de eventuais medidas públicas, como quarentenas e fechamento de escolas, também passaram a dominar o debate entre adversários políticos.

A meses da eleição, o presidente americano Donald Trump diz que a gravidade da situação é superestimada, e seus adversários democratas afirmam que o mandatário está cometendo erros de gestão que podem custar a vida de diversas pessoas.

Ao comentar o impacto do surto na economia brasileira, com queda da Bolsa de Valores e alta do dólar, o presidente Jair Bolsonaro afirmou: “Os números, não só da economia, bem como das demais áreas falam por si. Durante o ano que se passou, obviamente, temos momentos de crise. Muito do que tem ali é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga”.

Veja a situação abaixo em seis países.

Reino Unido
Nadine Dorries, 62, foi a primeira parlamentar britânica a ser diagnosticada com a doença. Ela, que também é secretária de saúde (cargo de segundo escalão do ministério), está em isolamento em casa.

Em comunicado nesta terça-feira (10), Dorries afirmou estar bem mas preocupada com a mãe dela, de 84 anos, que está em sua casa e começou a tossir há poucos dias.

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O serviço público de saúde do país está tentando localizar todas as pessoas com as quais ela teve contato. Um deles é o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, com o qual Dorries encontrou no mesmo dia em que começou a apresentar sintomas.

Todo o alto escalão do Ministério da Saúde será submetido a exames, e o debate sobre um eventual fechamento do Parlamento tem ganhado força.

Até o momento, o Reino Unido registrou 456 casos e 6 mortes.

França
O ministro da Cultura francês, Franck Riester, foi diagnosticado com coronavírus na segunda-feira (9). Segundo o governo, o político de 46 anos está bem e descansa em casa.

Ao menos cinco parlamentares da Assembleia Nacional francesa (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) também estão infectados, mas não há informações sobre o estado de saúde deles.

Até o momento, a França registrou 1.784 casos e 33 mortes.

Espanha

O secretário-geral do partido de direita Vox, Javier Ortega Smith, foi diagnosticado com a doença. Ele pediu desculpas porque o partido realizou no domingo um encontro político que reuniu mais de 9 mil pessoas, mas criticou o governo espanhol por não ter adotado medidas para impedir o evento.

Não há informações sobre o estado de saúde de Smith.

Depois desse diagnóstico, o Legislativo espanhol decidiu fechar o Congresso dos Deputados (a câmara baixa do país).

Até o momento, a Espanha registrou 2.026 casos e 47 mortes.

Irã

Dois parlamentares iranianos, Fatemeh Rahbar e Mohammad Ali Ramazani, morreram após contraírem coronavírus. Um conselheiro sênior do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, também morreu.

No país, que enfrenta uma das piores situações do surto no mundo, mais de 20 parlamentares foram infectados e passaram a ficar em quarentena em casa. O chefe do comitê governamental para o gerenciamento da crise também contraiu o vírus.

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Mais de 20 parlamentares do Irã foram infectados com o vírus, e 2 deles morreram Foto: AFP

Até o momento, o Irã registrou 9.000 casos e 354 mortes.

Itália

Sob quarentena desde segunda-feira (9), a Itália é o país europeu com o maior número de casos e mortes até agora. São 631 mortos e mais de 10 mil infectados.

Eventos públicos foram proibidos, mas a atividade parlamentar continua em funcionamento, ainda que reduzida e com alguns políticos doentes ou isolados.

O principal deles é Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrático, sigla que integra a coalizão de governo. De quarentena em casa, ele publicou um relato em redes sociais no qual afirma estar bem.

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Nicola Zingaretti, líder de partido da coalizão governista, foi infectado com coronavírus Foto: EPA

O avanço do surto provocou também um acirramento das tensões entre os italianos, o que inflamou a classe política e, ao mesmo tempo, foi alimentado por ela.

Declarações xenófobas, pedidos de fechamento das fronteiras, restrições de direitos dos imigrantes e informações desencontradas, quando não contraditórias, ajudaram a intensificar o medo no país.

O senador Matteo Salvini, atualmente o político mais popular da Itália e notório pelas declarações xenófobas e contra os imigrantes, atacou o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, pedindo a sua renúncia sob acusação de não conseguir proteger o país.

Estados Unidos
Nenhum político americano teve um diagnóstico confirmado do novo coronavírus, mas diversos congressistas passaram a adotar autoisolamento depois de terem estado perto de pessoas que estavam infectadas.

Isso atingiu tanto republicanos quanto democratas. Ao menos sete deles estão isolados, sendo que dois deles se encontraram recentemente com o presidente Donald Trump.

Trump tem dito que a epidemia é alarmismo midiático e que mais pessoas morrem proporcionalmente de gripe no país do que poderiam morrer de coronavírus — afirmação que as estatísticas desmentem.

O agravamento dessa situação tem gerado debate sobre um eventual fechamento do Congresso, mas essa hipótese vem sendo descartada por ambos os chefes do Congresso.

Até o momento, os EUA registraram 1.039 casos e 29 mortes.

*Com informações da BBC