A Bolívia entrou na reta final do seu ciclo energético. Segundo relatório financeiro de 2024 da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), as reservas de gás caíram para 4,49 trilhões de pés cúbicos (TCF) no fim de 2023, menos da metade do volume registrado em 2013. A queda de 57% em uma década coloca o país à beira de perder a autossuficiência energética e obriga o governo a se preparar para importar antes de 2028.
Até 2013, as reservas certificadas chegavam a 10,45 TCF. A perda líquida de 5,96 TCF expõe o esgotamento de um modelo baseado na exportação sem reposição de novos poços. O documento da YPFB, auditado pela consultoria Degolyer and MacNaughton, avaliou 65 campos de hidrocarbonetos, dos quais 45 contêm gás natural. Três foram descartados por inviabilidade econômica.
Especialistas alertavam há anos que, sem novos projetos de exploração, o país enfrentaria dificuldades. O fracasso do poço Boyuy-X2, anunciado como “um mar de gás” e depois abandonado, tornou-se símbolo da falta de planejamento. Hoje, a Bolívia depende de campos maduros em declínio, como Sábalo, San Alberto, Margarita e Itaú, que já foram megacampos de exportação.

A produção atual é de 0,41 TCF por ano, cerca de 10% da base disponível. Nesse ritmo, sem descobertas relevantes, o gás boliviano terá apenas uma década de vida útil, suficiente apenas para o mercado interno e com custos crescentes. O impacto já é visível: exportações para Brasil e Argentina caíram pela metade, royalties diminuíram e a escassez de dólares tornou-se estrutural.
O relatório também cita reservas de petróleo (12,6 milhões de barris), condensado (51,1 milhões), gasolina natural (26,7 milhões) e GLP (3,19 milhões). Mas o problema central é o gás, que chegou a representar 50% da renda nacional em 2014 e hoje responde por pouco mais de 20%. A industrialização prometida não avançou, e plantas como Amônia e Ureia ou Gran Chaco operam com baixa carga.
O presidente Luis Arce reconheceu falhas na política de hidrocarbonetos herdada de Evo Morales. Segundo ele, a nacionalização não foi consolidada e o país deixou de atrair investimentos.
“Em 14 anos o Governo só se dedicou a gerar recursos e distribuí-los, mas nenhum investimento foi feito na exploração de novos poços. Comemos o gás”, disse em março de 2025.
Arce afirma que seu governo tenta reverter a tendência, com 18 projetos de exploração em andamento. Alguns poços pequenos devem começar a produzir em 2025 e outros maiores em 2026. Ainda assim, especialistas alertam que o país terá de conviver com a redução estrutural de receitas e a necessidade de importar gás em breve.
Com informações El Deber
