Uma criança de 8 anos morreu no Distrito Federal após participar de um desafio popularizado no TikTok que incentiva a inalação de desodorante aerossol. A Polícia Civil apura as circunstâncias da morte de Sarah Raíssa Pereira, encontrada desacordada dentro do quarto, com um frasco de desodorante e o celular ainda exibindo o vídeo do chamado “desafio do desodorante”.

O caso aconteceu em Ceilândia, enquanto a menina estava sob os cuidados do avô. De acordo com familiares, o pai a encontrou roxa na cama, já sem reação. A criança foi socorrida e levada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde teve parada cardiorrespiratória. A equipe médica tentou reanimá-la por cerca de uma hora, mas ela não apresentou sinais de recuperação. A morte cerebral foi constatada na quarta-feira (10), e o óbito confirmado oficialmente no dia seguinte.

Vídeo com desafio estava em reprodução no celular da vítima

Segundo relato de uma parente próxima, a menina entrou no quarto com o celular nas mãos pouco antes de ser encontrada. Ao lado do corpo, havia uma embalagem de desodorante. A investigação tenta determinar como o conteúdo foi acessado pela criança e quem é o responsável por sua disseminação. O boletim de ocorrência foi registrado na 15ª Delegacia de Polícia, que abriu inquérito para apuração dos fatos.

O delegado-chefe João Ataliba informou que, se ficar comprovada a autoria do conteúdo e houver indícios de intenção ou negligência grave, os responsáveis poderão responder por homicídio qualificado — com penas que podem chegar a 30 anos de reclusão.

Outros casos semelhantes já foram registrados no Brasil

Apesar da ausência de dados oficiais, outros episódios semelhantes já aconteceram no país. Em março deste ano, uma menina de 11 anos morreu em Pernambuco em condições parecidas. Outro caso, em São Paulo, ocorreu em 2018, envolvendo uma criança de 7 anos.

Diante da situação, familiares de Sarah organizam um velório no Cemitério de Taguatinga nesta sexta-feira (12), com sepultamento previsto para as 16h. Sem recursos para os custos do funeral, a família disponibilizou uma chave Pix (61993086397) para receber doações em nome de Maria Fabiana Pereira Brandão, mãe da menina.

Especialistas alertam para os efeitos graves de substâncias inaladas

A comunidade médica reforça os perigos associados à inalação de aerossóis. A pneumologista Flávia Fonseca, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, explica que o sistema respiratório de crianças ainda está em formação e, por isso, mais vulnerável.

“As vias respiratórias infantis não têm a mesma proteção que as de um adulto. Inalar grandes quantidades pode gerar complicações graves e até sequelas a longo prazo”, afirmou. Em casos de exposição acidental, a orientação é procurar atendimento médico com urgência.

OMS classifica jogos perigosos como transtorno desde 2019

A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu os chamados “jogos perigosos” na Classificação Internacional de Doenças (CID), referindo-se a comportamentos que colocam em risco a saúde física e mental de quem participa. O desafio do desodorante se enquadra nessa definição por provocar reações químicas que comprometem a respiração e o funcionamento do coração.

Pais e profissionais cobram regulação de conteúdos online

A morte de Sarah provocou comoção nas redes sociais e trouxe à tona o debate sobre a responsabilidade das plataformas digitais na circulação de conteúdos perigosos. Uma mãe comentou que sua filha quase perdeu a vida em situação semelhante no ano passado. “Encontrei ela desmaiada no banheiro. Desde então, monitoramos tudo que ela acessa”, relatou.

A nutróloga Daniela Queiroga, de Brasília, publicou um vídeo emocionada sobre o caso: “Uma menina de 8 anos, sem nenhuma doença, [morreu] por conta de uma brincadeira de muito mau gosto”, afirmou. Ela defendeu que pais conversem com seus filhos e denunciem conteúdos que representem riscos.