Em meio à cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma figura chamou a atenção e despertou reações nas redes sociais. Em diversos momentos do evento, um homem fardado carregando uma Bíblia aberta acima da cabeça, erguendo-a com a mão direita. Trata-se do deputado federal Pastor Isidório (Avante-BA).
O deputado, que é ex-sargento da PM e pastor da Assembleia de Deus, costuma se apresentar com trajes militares e com a Bíblia na mão.
Reportagens sobre o político apontam que, há cerca de 30 anos, criou a Fundação Doutor Jesus, que ele define como um centro de recuperação de usuários de drogas em Candeias, região metropolitana de Salvador.
Em 2018, Isidório foi o parlamentar federal mais votado da Bahia, com 323 mil votos. Já em 2022, conseguiu ser reeleito, mas com uma votação menos expressiva: pouco mais de 77 mil votos.
Em 2019, o pastor causou polêmica ao apresentar um projeto para conferir à Bíblia o título de “Patrimônio Nacional, Cultural e Imaterial do Brasil e da Humanidade”.
Segundo reportagem publicada no jornal O Globo à época, o pastor se declara ex-gay e considera a homossexualidade um pecado. Ele, no entanto, nega que a sua fundação promova a “cura gay”, mas afirma que é comum que gays admitidos no local digam que foram “curados” após o tratamento.
Qualquer tipo de terapia que seja considerada “cura gay” é proibida no Brasil.
Apoio a Lula e popularidade na Bahia
Oposição a Jair Bolsonaro durante o governo do ex-presidente, ele foi defensor ferrenho de Lula durante as eleições deste ano.
Quando o atual presidente foi eleito, Isidório comemorou nas redes sociais. “Gratidão a todos e todas que depositaram o amor nas urnas hoje. A palavra é avançar! Vamos avançar com as políticas públicas que cuidam de gente”, escreveu o deputado federal.
“O amor venceu o ódio. Glória ao Deus da Bíblia”, escreveu, na legenda de uma foto compartilhada em seu perfil no Instagram.
Reportagem publicada pela revista Piauí em outubro de 2018 apresentava o pastor-sargento como um fenômeno eleitoral na Bahia; naquele ano, ele teve quase o dobro do número de votos do segundo deputado mais votado, Otto Alencar Filho, do PSD (185 mil votos).
Casado e pai de sete filhos, Isidório costumava dizer que é um “ex-homossexual” convertido pelo Evangelho, de acordo com a publicação. Temas progressistas sobre sexualidade e identidade de gênero, sobretudo nas escolas, ganham o repúdio do pastor que recorrentemente defende a “preservação dos valores da família”.
Ainda de acordo com a reportagem, Isidório foi policial militar e entrou para a política após participar de greves de PMs, em Salvador, reivindicando aumento de salário e melhores condições de trabalho para a corporação. No episódio, acabou preso e torturado nas dependências da polícia. Mais tarde, o coronel responsabilizado pelo ato contra ele foi condenado por tortura.
‘Para conversar com doido, só outro doido’
Em maio de 2019, o deputado viralizou nas redes sociais ao se oferecer para conversar com Bolsonaro sobre mudanças no decreto de flexibilização de armas.
“Eu entendo que é chegada hora de buscar interlocução. Esta Casa precisa tirar uma comissão, ou um parlamentar, para conversar com o presidente da República”, afirmou. “E pelo perfil dele, me sinto preparado para falar com ele se for necessário. Porque venho da Bahia, sou conhecido como doido. E para conversar com doido, só outro doido.”
Segundo reportagem publicada pelo site Poder360 à época, o congressista é um opositor da liberação do porte de armas defendida por Bolsonaro.
Ele chegou a fazer uma performance em um corredor da Câmara dos Deputados, simulando que havia sido baleado. Caído ao chão, falava em voz alta as suas ideias.
“Imagine o inferno que será esta nação com todos os políticos armados. Imagine a discussão da reforma da Previdência. Se por chamar o ministro de ‘tchuchuca’ terminou daquele jeito, agora imagine terminando na bala”, dizia, segundo a reportagem.