Campo Grande (MS)- A justiça manteve a prisão da mulher, mãe da menina de 11 anos, estuprada e morta brutalmente após ser deixada sozinha em casa junto com outras três crianças no bairro Nossa Senhora das Graças em Campo Grande.
De acordo com as informações, a mulher que foi detida em flagrante por abandono de incapaz, já que no momento do crime, estaria em um bar da região, teve a prisão em flagrante convertida para preventiva.
Durante a audiência, ela não pediu sequer para ir ao velório da filha que ocorreu também nesta terça-feira, 13 de dezembro. Em seguida, ela foi transferida para o Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, de regime fechado.
Durante o interrogatório, a mãe informou que desde as 12h do domingo (11) estava consumindo bebida alcoólica com um amigo em frente à sua casa. Como começou a chover, ela recolheu as crianças e trancou a porta da frente por fora com cadeado. Ela alegou que já havia deixado comida pronta para os filhos.
Velório marcado por comoção
Durante o velório, o clima era de comoção e tristeza. Amigos, familiares, políticos e até ex-parentes do suspeito – preso nesta segunda-feira (12) – deram o último adeus à criança que era conhecida como ‘Estrelinha’.
Professora de um projeto de estudo bíblico, que a menina frequentava, lembra que ela era uma criança alegre, estava sempre feliz e disposta a ajudar nas aulas. “Ela ia todo sábado no projeto da igreja, e ainda ajudava a arrumar a sala da escolinha”, afirma. A professora lembra que, na maioria das vezes, ela levava os irmãos menores, pois eles não tinham com quem ficar e a menina não queria faltar às aulas.
Assim como lembra outra professora, de 34 anos, que deu aulas para a menina durante seis anos, quem convivia com as crianças sabia dos problemas enfrentados na residência, além de que a mãe consumia bebidas alcoólicas com frequência. “Ela estava sempre contente e indo à escola, chegava até mais cedo, abraçava todo mundo. Ela nunca reclamou de nada, mesmo com problemas”, relembra.
Ex-cunhada do suspeito, de 25 anos, soube do crime e decidiu comparecer ao velório, para prestar solidariedade aos familiares e amigos da vítima. Ela disse esperar que o suspeito continue preso e afirmou que ele já era uma pessoa agressiva. “Ele já tinha batido na minha irmã, que estava grávida, e maltratado meus sobrinhos. Se estivesse preso não tinha feito uma vítima”, lamenta.
O secretário municipal de educação, Lucas Bittencourt, também foi até o velório ao ficar sabendo da morte da menina. “A secretaria tem trabalhado com auxílio de um psicólogo e já estamos prestando assistência aos irmãos da vítima. Fiquei sabendo do caso e resolvido comparecer”, afirma.
Exames confirmaram estupro
Perícia inicial confirma que a menina de 11 anos foi estuprada. O autor teria matado a criança para acobertar o estupro de vulnerável e foi preso nesta segunda-feira (12). Conforme os delegados Roberto Morgado e Gustavo Henrique Barros, da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), a Perícia confirmou que houve estupro. A menina de 11 anos estava gravemente ferida em todo o corpo.
Também segundo as autoridades policiais, foi comprovado que a menina morreu após sofrer traumatismo craniano. O homem teria batido várias vezes com a cabeça da criança no chão, conforme apurado inicialmente na perícia.
Frequentava e conhecia a casa da vítima
Após a prisão em flagrante, o homem confessou o crime informalmente e também no interrogatório. Ele contou que foi até a casa porque marcou um programa sexual com a mãe da menina.
No entanto, a mulher não estava, já que foi até um bar e deixou os filhos sozinhos na casa. Por isso, a porta da frente estava fechada.
Como o homem conhecia a residência, já que teria feito programas com a mulher pelo menos 6 vezes, foi até a porta dos fundos. Essa porta ficava apenas encostada, então ele entrou na residência.
No depoimento, alegou que a menina se assustou e começou a gritar, por isso a agrediu com um soco e a vítima teria caído e batido com a cabeça.
Porém, para os delegados, ele teria se aproveitado da vulnerabilidade da menina, a estuprado e a assassinado para acobertar o estupro. Os delegados não acreditam que a vítima tenha se assustado com a presença do autor, já que ele foi visto outras vezes na casa.
Bebeu o dia inteiro
Também conforme os delegados Roberto e Gustavo, da DEPCA, o suspeito estaria sob efeito de álcool. Mesmo assim, foi feito pedido da prisão preventiva, porque tem personalidade violenta e seria temerário manter em liberdade enquanto responde ao processo.
Apesar de toda violência do crime, o suspeito foi para casa, lavou a roupa que usava e dormiu. Na delegacia, tentou demonstrar arrependimento e disse que não sabe o que aconteceu, que teria se transformado em um monstro.
Então, nesta segunda-feira foi para o trabalho. No caminho, foi encontrado pelas equipes da DEPCA, atuando com o GOI (Grupo de Operações e Investigações), e acabou preso em flagrante. Outras testemunhas já foram ouvidas, como o irmão de três anos da vítima.
Irmão presenciou o crime
Segundo os delegados, o menino de três anos presenciou todo o crime. Ele foi ouvido no setor psicossocial da DEPCA e, em depoimento, confirmou o que viu.
Apesar da idade, o menino conseguiu gesticular e demonstrar o que presenciou na casa. Ele e os outros irmãos eram cuidados pela menina de 11 anos, já que costumavam ser deixados sozinhos pela mãe.
Já os outros irmãos da vítima estavam dormindo e não teriam visto o ocorrido. Pela situação de abandono, a mulher foi presa em flagrante pela equipe de plantão da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
O autor do crime já tem passagens por violência doméstica e também condenação. No interrogatório, ele teria esboçado algum arrependimento e alegado não saber o que aconteceu.
Ele responderá por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel, para ocultar ou garantir impunidade de outro crime – que seria o estupro de vulnerável – e também pelo estupro de vulnerável.
Ainda conforme os delegados, as outras crianças não tinham sinais de violência, mas o caso segue em investigação. A casa era frequentada por usuários de drogas e também pelos clientes da mãe das crianças. A princípio não há informação de que a menina era prostituída pela mãe, mas o fato também é apurado.