Classificar facções como terrorismo não resolve combate ao crime, diz Randolfe

Rotular facções como terroristas não combate crime, diz Randolfe

Líder do governo no Congresso alerta que rótulo pode abrir brecha para intervenções estrangeiras e defende aumento de penas e coordenação policial

O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues, afirmou que identificar facções e milícias como terroristas não avança no combate ao crime organizado e pode, além disso, servir de pretexto para intervenções estrangeiras. A avaliação foi feita em entrevista à Agência Brasil a respeito dos projetos que tramitam na Câmara dos Deputados sobre organizações criminosas.

Randolfe ponderou que o Executivo não se opõe a rotular as organizações como terroristas, mas destacou que o rótulo é insuficiente para enfrentar práticas delituosas e que a prioridade deve ser a efetividade das políticas públicas.

“Não há nenhum problema em rotular [de terrorismo]. Se querem rotular, deem o nome que tiverem que dar para isso, desde que o rótulo não comprometa a soberania nacional. O que nós não queremos é dar brecha para qualquer nação estrangeira intervir no Brasil. O problema do crime organizado vai ser resolvido por nós, brasileiros”, afirmou Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso Nacional.

O senador acrescentou que a discussão precisa se concentrar nas medidas práticas para derrotar as facções, e não na nomenclatura. “Eu não quero debater rótulo, eu quero debater o conteúdo [das políticas] para derrotar o crime. Não é o rótulo que vai derrotar o crime organizado. Não é chamar o outro de feio que vai derrotá-lo. O horror não se combate chamando-o de horror. Tem que aumentar a pena para membro de facção, tem que combater o fluxo financeiro das facções, tem que ter coordenação de forças policiais”, disse Randolfe Rodrigues.

Disputa na Câmara e risco de intervenção externa

No Legislativo, a disputa é entre o projeto apoiado pelo Executivo, conhecido como PL das facções, e o PL do Terrorismo, de autoria do deputado Danilo Forte, que equipara facções e milícias ao terrorismo. A votação do PL do Terrorismo foi adiada na Comissão de Constituição e Justiça, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, deverá definir o rito, com possibilidade de juntar os dois projetos.

O presidente da CCJ, deputado Paulo Azi, explicou à Agência Brasil que a decisão sobre a tramitação está sob responsabilidade de Hugo Motta e que o projeto pode tanto seguir para a CCJ quanto ser apensado ao outro texto em disputa.

Especialistas consultados por veículos públicos têm alertado que equiparar facções a terrorismo poderia expor o Brasil a estratégias intervencionistas de países como os Estados Unidos na região, argumento também retomado por Randolfe em sua fala.

Prioridade em ações e penas mais duras, segundo o governo

Randolfe citou iniciativas encaminhadas pelo Executivo para enfrentar o crime organizado, entre elas a Proposta de Emenda à Constituição da Segurança e o PL Antifacção. Para o líder do governo, as medidas eficazes passam por coordenação entre forças policiais, incremento da inteligência, aumento de penas para membros de organizações criminosas e combate ao fluxo financeiro das facções.

Segundo ele, operações pontuais em territórios como favelas são insuficientes se não vierem acompanhadas de presença continuada do Estado e ações integradas de segurança, prevenção e inteligência.

Na avaliação do senador, a questão deve ser tratada como uma pauta de Estado, sem proselitismo ideológico, reunindo esforços do governo e da oposição para formular respostas concretas ao crime organizado.