Ao observar rachaduras em construções, alunos de robótica do SESI de Corumbá (MS) criaram um tijolo feito de materiais sustentáveis que podem dar mais durabilidade ao produto e beneficiar a população de baixa renda. Esse e outros projetos inovadores serão apresentados durante o Torneio SESI de Robótica FIRST Lego League (FLL), que ocorrerá no início de março, em São Paulo.
A equipe “Tupinambótica” começou a desenvolver a técnica em março do ano passado. Apelidada de “Adoblocks”, a ideia dos jovens é criar um bloco, semelhante a um tijolo, feito de terra crua de cor clara, fibras naturais (palha), citronela, uma espécie de repelente natural que espanta insetos atraídos pela palha, além de água, cal e pó de pneu.
“Os alunos retiram os pneus que são encontrados na natureza, descartados de forma inadequada, e fazem todo o processo de triturar e retirar o pó, para dar mais flexibilidade e isolamento acústico e térmico ao tijolo. Isso para colocar em todos esses materiais, misturar, moldar e secar naturalmente. Esse é um tijolo que não vai para o forno”, explica a professora e técnica da equipe, Ellen dos Santos.
Com essa técnica de não levar o tijolo ao forno, conhecida como adobe, os alunos também evitam a emissão de monóxido de carbono, substância tóxica que sai na fumaça no momento da queima e apontada pela OMS como causadora de problemas respiratórios, por exemplo.
Ellen conta também que a ideia é tornar o tijolo mais acessível à população de baixa renda. Segundo a professora, mil unidades de tijolos convencionais em Corumbá custam, em média, R$ 900. Com a iniciativa dos estudantes, a mesma quantidade do material sustentável sairia pela metade desse valor.
“A finalidade do projeto é que as pessoas que não podem comprar materiais de construção de custo muito alto possam, com a técnica do adobe, construir e formar esses blocos para construção de casas, de muros e de outras coisas”, completa.
Segundo o aluno Guilherme Beckman, de 12 anos, o grupo não teve muito descanso em quase um ano de projeto. Conta ainda que foi entre pesquisas e testes de resistência do protótipo que ele e os colegas Luiz Miguel Ferreira (13), Mirella Pedrosa (13) e Matheus da Silva (13) descobriram o foco do problema que levava os prédios de Corumbá a sofrerem com rachaduras na estrutura.
“Esse problema ocorre pelas temperaturas elevadas, o solo raso em nossa região, a dificuldade de pessoas do campo e de baixa renda de adquirirem material de construção. É muito dinheiro investido em materiais e pouca eficiência e durabilidade”, aponta.
Na opinião do jovem, o “Adoblocks” pode ser uma inovação no ramo da construção civil da cidade. “Em situações de solo raso, onde a estrutura normalmente se abala começando pela base, tijolos mais flexíveis não trariam dificuldades com as estruturas da casa. Além disso, a obra tem uma vida útil maior pelos materiais utilizados”, garante.
A competição
O Torneio de Robótica FIRST LEGO League reúne 100 equipes formadas por estudantes de 9 a 16 anos e promove disciplinas, como ciências, engenharia e matemática, em sala de aula. De 31 de janeiro a 16 de fevereiro, haverá as disputas regionais. Os melhores times garantem vaga na etapa nacional, que ocorre em março, em São Paulo.
O objetivo é contribuir, de forma lúdica, para o desenvolvimento de competências e habilidades comportamentais exigidas dos jovens. Todo ano, a FLL traz uma temática diferente. Em 2020, os competidores terão que apresentar soluções inovadoras para melhorar, por exemplo, o aproveitamento energético nas cidades e a acessibilidade de casas e prédios.
O diretor de Operações do Departamento Nacional do SESI, Paulo Mol, ressalta que a elaboração dos projetos estimula a autonomia e o trabalho em equipe e contribui para a formação profissional dos alunos. “A questão do empreendedorismo é a base de todo o processo. Nesse torneio, uma das avaliações que é extremamente importante é a capacidade de empreender, de buscar coisas novas, de fazer com que o produto seja desenvolvido”, atesta.
Colaborou Repórter Jalila Arabi da Agência do Rádio Mais