A “farra das diárias” que engorda a remuneração dos vereadores de Juti, a 320 km de Campo Grande, foi parar na mira do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). A cidade é uma das mais pobres do Estado e ocupa 79ª posição em MS no quesito remuneração, ou seja, fica em último lugar em renda do trabalhador, que em média recebe 1,7 salários mínimos em Juti.
De acordo com a promotoria, consulta ao Portal da Transparência da Câmara Municipal de Juti constatou pagamento de diárias de R$ 426.268,91 aos vereadores em 2022. Enquanto o total de desembolso dos salários foi de R$ 545.400.
“Ou seja, os Vereadores do Município de Juti quase que dobraram os valores de seus subsídios com recebimentos de diárias, em evidente complementação remuneratória”, aponta a promotora Fernanda Rottili Dias.
O MPMS publicou uma recomendação para o Poder Legislativo nesta quinta-feira (dia 31). Um alerta para correção dos problemas sem que a situação seja levada à Justiça.
A publicação destaca que as diárias são estabelecidas para ressarcir gastos e não podem ser utilizadas para compor, “de maneira disfarçada”, a remuneração. Desta forma, o pagamento é restrito às despesas de alimentação, pousada e locomoção.
De acordo com o Ministério Público, restou apurado que foram realizados pagamentos de diárias aos vereadores de Juti sem que tenha sido realizado o pedido/requerimento por escrito e detalhado, em evidente afronta a artigo da Lei Municipal 600/2020.
Nesta situação, surgem os vereadores Vando Adão Claudino, Nelson Gonçalves Rodrigues (presidente da Casa de Leis) e José Carlos Coelho da Silva.
A apuração ainda verificou pagamentos de diárias com pernoite aos vereadores de Juti, contudo, não houve efetivo pernoite (tanto que nos próprios pedidos está assinalado o campo de diária sem pernoite). Mais uma vez em afronta à lei municipal. Sem pernoite, o valor pago é de 75% da diária.
Nesta irregularidade, são citados como exemplos os vereadores Carlos Antônio Tomazelli, Deunizar da Silva Dias, Elício Rocha Filho e Luzia Aparecida Araújo Rocha.
O documento detalha que Elício Rocha Filho realizou o pedido de diária para os dias 5 e 6 de maio de 2022, com pernoite, para reuniões com os deputados, contudo, comprovou que esteve apenas no gabinete de um deputado, no dia 5 de maio, das 13hs às 14hs, não tendo direito, portanto, ao pagamento de diária com pernoite.
Altos valores – O Ministério Público também destaca o valor das diárias paga aos vereadores de Juti, bem acima da média de outros municípios. A diária integral para o presidente da Câmara é de R$ 1.659. Para os demais vereadores, o valor é de 1.232,40. A promotoria fez comparativo com outras cidades.
O MPMS recomendou que a Câmara Municipal de Juti cumpra a lei que regulamenta as diárias a fim de estancar todas as irregularidades. No prazo de 60 dias, os vereadores devem excluir o pagamento a mais para o presidente da Casa de Leis e reduzir a diária. A promotoria sugere o valor de R$ 853. Já o ressarcimento aos cofres públicos será por meio de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
A Câmara tem prazo de 30 dias para responder se aceita cumprir as solicitações. O presidente da Casa de Leis, Nelson Gonçalves Rodrigues (PP), afirmou que o Poder Legislativo vai acatar a recomendação do MPMS. A Câmara tem nove vereadores.