Corumbá (MS)- Uma das mais tradicionais cidades do Estado do Mato Grosso do Sul, Corumbá, completa nesta quarta-feira, 21 de setembro, 244 anos.
Conhecida por integrar a maior parte de um dos biomas mais diversificados do planeta, recebe o título de Capital do Pantanal, sendo detentora de 64.438,363 km² da maior área alagável do planeta. Localizada ao extremo da fronteira Oeste do país, atualmente tem sua população estimada em 110 mil pessoas, segundo dados do IBGE.
No coração da América do Sul, a cidade já teve o terceiro maior porto da América Latina até a década de 1930. A cidade também foi centro da Guerra da Tríplice Aliança, também chamada de Guerra do Paraguai, (1864-1870). Em 1865, foi ocupada pelas tropas do presidente paraguaio Francisco Solano López e destruída. Cinco anos mais tarde, reconstruída sob o comando do coronel Antônio Maria Coelho.
O “lugar distante”, tradução do nome vindo do tupi guarani, tem muitos segredos desconhecidos. Uma cultura antiga presente no tradicional São João e em outras datas comemorativas quer atenção.
O cururu e o siriri são duas práticas culturais permeadas de festa, alegria, elementos da geografia pantaneira e que hoje está praticamente restrito às pessoas mais velhas. Ambos trazem a música com a viola de cocho. A diferença entre os dois é vista na participação das mulheres, geralmente mais presente no siriri.
O historiador e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Divino Marcos de Sena ressaltou que o cururu é “uma das manifestações culturais mais antigas da nossa região pantaneira. Ela envolve interesse tantos dos indígenas, também expressões dos africanos e dos europeus. É um produto sintético e híbrido da nossa raiz cultural brasileira”.
Ainda sobre o que é a prática, o professor conceituou que o “cururu é uma prática cultural permeada de dança, movimento e cantoria. Ele é utilizado tanto em festas profanas quanto religiosas. Em festas religiosas, é um momento de atração, são cantadas músicas em homenagem aos santos, geralmente relacionadas ao catolicismo”.
Ele realizou uma pesquisa em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para mapear os cururueiros e siririeros da região pantaneira. O mapeamento foi nas cidades de Corumbá e Ladário.
O objetivo da pesquisa feita entre outubro de 2018 e setembro de 2019, de acordo com o professor, é o de fazer a manutenção da cultura na região. Vale destacar que os praticantes dessa cultura se encontram em uma idade mais avançada, na zona rural e em “número reduzido”. O levantamento começou com base nos dados das secretarias de cultura de Ladário e Corumbá. “A partir disso, encontramos outros. Eles acabam tendo uma rede. Fomos até o local. Os dados foram repassados ao Iphan”.
Os resultados estão no artigo do professor Divino Marcos com o título ‘Cururueiros no Pantanal sul-mato-grossense em princípio do século XXI’. Foram identificadas 26 pessoas na região do pantanal. A maioria nasceu em Mato Grosso. Em Corumbá, são cinco pessoais naturais. Os outros são de Paconé (MT), Cuiabá, Barão de Melgaço (MT) e Várzea Grande (MT).
Essa cultura “conversa” com um período de um Brasil rural, conforme analisa o professor. “Nos espaços urbanos é quase impossível encontrar essas tradições. Há uma certa nostalgia por conta disso tudo”. O perfil dos atuais curureiros é de condição econômica muito baixa, trabalhando em serviços braçais ou no campo, e idosos que moram na zona rural. “Os mais jovens estão na faixa dos 55 anos”, completa Divino.
A cultura do cururu e siriri é algo que passa de geração em geração. No entanto, a falta de interesse dos mais jovens fez com que ela se estagnasse. O artesão aposentado Sebastião de Souza Brandão, 78, que mora em Ladário, é uma das principais referências do estado quando falamos desse segmento.
Ele explica que a relação com o cururu começou desde quando era criança. “Desde que eu me entendi por gente, minha família toda era dessa cultura. Meu pai era cururueiro. Meus tios todos eram cururueiros”.
A importância do cururu para Sebastião é muito grande. Ele conta que até hoje não conseguiu parar e ainda pega encomendas de viola de cocho para fazer. Em entrevista, ele relatou que para o aniversário de Corumbá, tem várias ‘violinhas’ por entregar.
O cururu tem dois principais instrumentos para a prática, a viola de cocho e o ganzá (instrumento musical de percussão utilizado no samba e outros ritmos brasileiros). O siriri tem esses dois e o mocho.
Sebastião finaliza com a lembrança do auge dessa cultura e com a desesperança para o futuro. “cururu é mais na época do São João. Está acabando aquelas pessoas que conhecem o cururu, os jovens não estão muito interessados”.
As informações são do Campo Grande News