Família acusa enfermeiras de “torturar” jovem esquizofrênico em Corumbá

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A família de um jovem de 25 anos que é dependente químico e esquizofrênico, acusa uma equipe de enfermagem da ala psiquiátrica da Santa Casa de Corumbá de ter agredido o rapaz, no último dia 12 de outubro. Em vídeo a que a reportagem teve acesso o jovem aparece de bruços em uma maca, com os pés e mãos amarrados.

Fotos que mostram as marcas no pescoço, mãos e pernas do rapaz também aumentam a indignação da família, que agora cobra explicações. “Meu irmão foi enforcado, amarrado, torturado, quando tinha acabado de ser internado para tratamento e até agora ninguém foi punido”, desabafa a social media Renata Galeano, de 23 anos, irmã do rapaz.

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Marcas no pescoço do rapaz. (Foto Arquivo Pessoal)

Segundo Renata as agressões teriam sido cometidas por uma técnica de enfermagem e uma enfermeira da ala de psiquiatria da Santa Casa. “Eles falaram que meu irmão partiu para cima delas ao se recusar tomar a terceira dose de um medicamento. Ele foi contido por um homem e agredido pelas enfermeiras”, acusa a jovem.

Uma acompanhante de um dos pacientes da ala psiquiatra teria presenciado toda a situação e gravou o momento em que o rapaz foi deixado amarrado na maca, aparentemente sobre efeito de sedativos.

“Quando chegamos no hospital no dia seguinte, encontramos ele cheio de hematomas e ficamos desesperadas. Meu irmão ficou 12 horas amarrado de bruços, sem comida, sem água, sem poder ir ao banheiro. Até hoje ele não consegue mover um dos braços”, se queixa.

O exame de corpo de delito feito no rapaz também confirmou escoriações nas costas, no queixo, molar, pescoço e laceração no lábio do jovem. No histórico do documento também consta a informação de que uma das enfermeiras teria dado “golpes nas costas e esganadura” no paciente enquanto dizia palavras de “baixo calão”.

Ainda segundo Renata no dia seguinte as agressões, ela e a mãe a aposentada Maria Thereza Moraes Lopes, de 50 anos, foram informadas de que as duas funcionárias teriam sido transferidas para outra ala, mas não teriam sofrido nenhum tipo de punição.

As enfermeiras também teriam registrado um boletim de ocorrência contra o paciente. A família acusa o hospital de negligência. “Desde o ocorrido elas continuam trabalhando normalmente, sem nenhum tipo de punição. Sabe-se lá quantas pessoas já não passaram por esse mesma situação e o hospital parece que está ‘abafando’ o caso”, diz.

Renata detalhe que foi o próprio irmão quem pediu para que a família o internasse para tratar o vício em drogas. “Foi a primeira vez que ele pediu ajuda para um tratamento em 11 anos”, explica. Segundo ela o irmão usa drogas desde os 14 anos de idade. O quadro de esquizofrenia teria se intensificado justamente por conta do vício.

“Ele passou a ter lapsos de memória, se perder na rua. Já foi encontrado sem roupa, chegou a um ponto insustentável em que a gente quase não tinha mais contanto com ele até ele decidir pedir ajuda. Começamos o atendimento no Caps (Centro de Assistência Psicossocial) de onde ele foi encaminhado para a ala de psiquiatria da Santa Casa”, completa.

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Depois das agressões o rapaz continuou entre idas e vindas no hospital, mas desde o último sábado (31) ele está internado em uma clínica de reabilitação em Anastácio. O tratamento, segundo a social media, está sendo custeado por doações e pela prefeitura de Corumbá. Enquanto isso a família espera esclarecimentos sobre o episódio no hospital.

“Denunciamos o caso na ouvidoria do SUS (Sistema Único de Saúde) e o Ministério Público já notificou o hospital”, conclui.

O hospital – Conforme apurado pela reportagem a Santa Casa de Corumbá abriu sindicância para “apurar eventuais práticas irregulares no atendimento do paciente”. À reportagem o hospital informou, via assessoria de imprensa, que vai se manifestar através de nota. O posicionamento não foi divulgado até a publicação da reportagem.

A prefeitura – A Secretaria de Saúde de Corumbá também informou que já solicitou a direção do Hospital “esclarecimentos acerca do fato e cumprimento das medidas cabíveis”.