Biossensor identifica metástase do câncer de boca a partir da saliva

Novo biossensor detecta metástase de câncer de boca pela saliva com IA. Inovação brasileira promete diagnóstico mais rápido e acessível para o SUS.
  • Autor do post:

Protótipo desenvolvido no CNPEM usa saliva, ZIF-8 e inteligência artificial para detectar sinais de metástase e pode ser aplicado no SUS

Um aparelho do tamanho da ponta dos dedos pode transformar a detecção de câncer de boca ao identificar indícios de metástase por meio da saliva. Segundo informações do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, pesquisadores criaram um protótipo de biossensor capaz de detectar concentrações de três biomarcadores associados ao câncer, sem a necessidade de procedimentos invasivos.

O teste identifica as proteínas LTA4H, CSTB e COL6A1, que aparecem quando a doença começa a se espalhar para os gânglios do pescoço. A metodologia, descrita em artigo publicado na revista Small, utiliza espectroscopia de impedância eletroquímica para acompanhar o comportamento das proteínas a partir do contato com a área ativa dos sensores.

Como funciona o exame e quais componentes são usados

De acordo com dados divulgados pelo CNPEM, a área ativa do sensor é composta por ZIF-8 e anticorpos específicos. O ZIF-8 é um material poroso com grupos químicos que permitem imobilizar anticorpos, enquanto estes atuam na captura das proteínas no formato de modelo chave-fechadura, o que torna a análise mais precisa.

O processo de análise é realizado por espectroscopia de impedância eletroquímica, técnica que detecta alterações quando as proteínas entram em contato com a superfície sensora. Os marcadores foram identificados por mapeamento de proteínas no tecido tumoral e, em seguida, validados na saliva pelo protótipo, conforme relatório do CNPEM.

Precisão, aplicação no SUS

Além de ser econômico e não invasivo, o exame incorpora algoritmos de inteligência artificial para interpretar os sinais coletados. Segundo os pesquisadores, modelos de machine learning treinados com perfis salivares obtiveram até 76% de acerto na identificação de casos com metástase. Entre os biomarcadores, a proteína LTA4H se destacou como a mais eficaz para distinguir pacientes com e sem disseminação tumoral.

O desenvolvimento teve apoio do CNPEM e da FAPESP, com os projetos listados sob os números 23/16779-9, 22/14348-8, 18/12194-8, 17/25553-3, 16/24664-3, 18/15535-0 e 18/18496-6. A expectativa dos pesquisadores é transformar o exame em um kit acessível e portátil em até três anos, para uso em hospitais, consultórios odontológicos e programas públicos de rastreamento do câncer de boca.

Em nota, a pesquisadora do Laboratório Nacional de Biociências do CNPEM, Adriana Franco Paes Leme, afirmou que a tecnologia representa “um avanço importante, que permite decisões clínicas mais rápidas e precisas, e com grande potencial de impacto no sistema público de saúde“. O objetivo é disponibilizar o biossensor ao Sistema Único de Saúde, tornando o diagnóstico e o acompanhamento mais ágeis.

O novo exame pode reduzir cirurgias exploratórias, como a dissecção cervical, frequentemente realizada em pacientes com câncer de boca. Conforme a responsável pelo estudo no pós-doutorado, Luciana Trino Albano, atualmente pesquisadora do CTI Renato Archer, “é muitas vezes eletivo, mas em média 70% dos casos não têm metástase. Com o exame, essas cirurgias não precisariam ser realizadas”.

cancer câncer de boca
procedimento vai reduzir necessidade de procedimentos invasivos

babybeef câncer de boca