Trump mira Pix em nova ofensiva comercial contra o Brasil

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  • Post publicado:16 de julho de 2025

O sistema de pagamentos Pix, criado pelo Banco Central do Brasil, entrou no radar do governo dos Estados Unidos, que abriu uma investigação oficial contra práticas comerciais brasileiras supostamente consideradas desleais. A apuração foi anunciada na terça-feira (15) pelo representante de Comércio norte-americano, Jamieson Greer, no contexto da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — instrumento usado para justificar sanções unilaterais.

Embora o relatório não mencione diretamente o nome “Pix”, há referência a “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, o que inclui o sistema brasileiro. Segundo o texto, o Brasil “parece oferecer vantagens indevidas” a esses serviços, em detrimento da concorrência estrangeira.

Concorrência com WhatsApp Pay e big techs

Especialistas apontam que a motivação dos EUA pode estar ligada ao histórico de impedimentos regulatórios enfrentados pelo WhatsApp Pay, serviço de pagamentos do aplicativo pertencente à Meta, do empresário Mark Zuckerberg, aliado político de Trump.

Em 2020, o Banco Central e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) suspenderam a estreia do WhatsApp Pay no Brasil, uma semana após o anúncio da funcionalidade, alegando potenciais riscos à concorrência e à segurança do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

Na avaliação da economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, a decisão foi adequada:

“O WhatsApp criou um mecanismo de transferência fora do sistema financeiro legal, sem integração com o SPB e sem a supervisão do Banco Central, o que é incompatível com a regulação brasileira.”

Pix como alternativa ao dólar

Além da disputa entre plataformas de pagamento, há um incômodo geopolítico. O Pix tem sido usado por brasileiros em transações internacionais, sobretudo em países como Paraguai e Panamá, onde comerciantes aceitam pagamentos diretamente via contas bancárias brasileiras. A prática evita a conversão cambial para o dólar, diminuindo sua demanda.

“Essa desintermediação prejudica o controle dos EUA sobre as transações internacionais e afeta a valorização do dólar”, analisa Cristina Helena.

Em 2024, o Pix movimentou R$ 26,4 trilhões, segundo o Banco Central, consolidando-se como o principal meio de pagamento do país.

Ameaça às operadoras de cartão

Outro fator de preocupação para empresas norte-americanas seria o lançamento previsto para setembro de 2025 do Pix Parcelado, funcionalidade que permitirá ao consumidor parcelar pagamentos diretamente no sistema, sem depender do cartão de crédito. O lojista continuará recebendo o valor integral, enquanto o banco financia as parcelas ao cliente.

Para a economista da PUC-SP, o avanço do Pix representa uma ameaça ao modelo tradicional de bandeiras internacionais de cartão de crédito, muitas delas com sede nos EUA.

“O Pix é ágil, seguro, inclusivo e mais barato. Beneficia pequenos empreendedores e trabalhadores informais, e promove a bancarização de populações antes excluídas do sistema financeiro.”

Contexto da guerra comercial

A investigação contra o Pix ocorre em meio à escalada da guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos, liderada por Trump em seu segundo mandato. Na semana anterior, o presidente norte-americano anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, alegando “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro e tratamento desigual a empresas norte-americanas.

O governo brasileiro reagiu com críticas, classificando a medida como uma “intromissão inaceitável” e uma tentativa de pressionar o Judiciário nacional. Por meio de decreto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva regulamentou a Lei de Reciprocidade Comercial, autorizando a adoção de contramedidas.


📌 Entenda os pontos-chave da crise:

  • Pix é citado em investigação comercial dos EUA como serviço com “vantagem indevida”;
  • WhatsApp Pay teve atuação limitada no Brasil por decisão regulatória em 2020;
  • Sistema brasileiro se tornou alternativa ao dólar em transações internacionais;
  • Lançamento do Pix Parcelado em 2025 pode ameaçar o setor de cartões de crédito;
  • Medida faz parte da nova guerra comercial de Trump, com tarifas de até 50% contra o Brasil.

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