Como a Escala Fujita estima ventos e danos após tornado que arrasou cidades no Paraná
Um tornado que passou por municípios do interior do Paraná na madrugada de sexta-feira deixou ao menos seis mortos, 432 pessoas atendidas por ferimentos e mais de mil desabrigadas, segundo dados do governo do estado. O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná, Simepar, avaliou o fenômeno como EF3 na Escala Fujita Aprimorada, padrão que classifica tornados do EF0 ao EF5 conforme a intensidade dos danos.
Os ventos cortaram árvores e arrancaram postes, destruindo grande parte de casas em cidades como Rio Bonito do Iguaçu, onde a Defesa Civil estimou que cerca de 80% da área urbana foi atingida. O evento se formou no contexto de um ciclone extratropical, com uma supercélula caracterizada por um mesociclone, ou seja, uma corrente ascendente em rotação dentro da nuvem, e condições atmosféricas muito úmidas e aquecidas, além de elevado cisalhamento de vento.
Como a Escala Fujita Aprimorada atribui uma classificação
A Escala Fujita Aprimorada (EF) não mede diretamente a velocidade do vento; ela estima a intensidade do tornado a partir dos danos observados. Peritos avaliam estruturas e objetos danificados segundo 28 indicadores de dano, que vão de construções residenciais a postes e árvores, cada um com graus de prejuízo que permitem estimar a velocidade das rajadas.
Com base nessas observações, os especialistas atribuem um valor de EF conforme as rajadas de vento estimadas para um intervalo de pelo menos três segundos. Em termos gerais, as faixas da escala são: EF0 (104–137 km/h), EF1 (138–177 km/h), EF2 (178–217 km/h), EF3 (218–266 km/h), EF4 (267–321 km/h) e EF5 (acima de 321 km/h), com danos que vão de leves a incomensuráveis.
“A rajada de 3 segundos não corresponde ao mesmo vento observado em medições de superfície padrão. As medições padrão são feitas por estações meteorológicas em locais abertos, utilizando uma velocidade medida diretamente, como, por exemplo ‘uma milha em um minuto'”, diz o National Weather Service (NWS).
Limitações do uso da escala fora dos EUA e aplicação no Paraná
A escala foi desenvolvida nos Estados Unidos e leva em conta práticas construtivas locais, por isso sua aplicação em outros países exige adaptação. Casas de alvenaria, por exemplo, respondem de modo diferente aos mesmos ventos que residências de madeira ou estruturas leve, o que exige ajuste nos parâmetros quando a Escala Fujita é usada fora dos EUA.
No Brasil, a EF não é adotada oficialmente, e a classificação feita para o tornado do Paraná foi estimada pelo Simepar a partir de imagens de destruição e dados de radar, em vez de medições diretas de vento.
“Foi bastante devastador. Até mesmo por categorias. Não me recordo de chegarmos ao EF3.”, afirma Samuel Braun, meteorologista do Simepar.

Os relatos e imagens das áreas atingidas mostram destruição extensa, queda de granizo em pontos e operações de busca por sobreviventes em andamento. Rio Bonito do Iguaçu, município com cerca de 14 mil habitantes e situado a 400 km de Curitiba, registrou danos generalizados enquanto equipes de bombeiros e Defesa Civil atuam no atendimento às vítimas.
A classificação EF3 indica rajadas estimadas entre 218 km/h e 266 km/h e aponta para danos severos, mas a própria metodologia ressalta que o índice é uma inferência a partir dos estragos observados, não uma medição direta do vento.


