Casa do Migrante registra 1.700 atendimentos em 2025 e prepara nova sede em Corumbá

Casa do Migrante em Corumbá acolhe estrangeiros que chegam pela Bolívia, oferecendo abrigo, alimentação e orientação para recomeçar a vida no Brasil.
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  • Post publicado:15 de outubro de 2025

Centenas de estrangeiros que atravessam a fronteira com a Bolívia encontram na Casa do Migrante, em Corumbá, um ponto de apoio para recomeçar a vida no Brasil. O espaço oferece abrigo, alimentação e orientação sobre documentação, funcionando como uma das principais portas de entrada humanitária para quem chega em busca de refúgio, trabalho ou melhores condições de vida.

Entre as histórias de superação está a do casal venezuelano Yosbelys Leal, contadora, e José Vicente Herrera, motorista de máquinas pesadas. Eles chegaram com a filha de 11 anos após percorrer parte do trajeto a pé.

Graças ao atendimento que recebemos, temos trabalho e moradia. A vinda ao Brasil é a esperança de melhorar”, relatou Yosbelys, emocionada.

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O espaço funciona com estrutura de alojamento, três refeições diárias e suporte para regularização de documentos e deslocamento.

“A função da Casa é gigantesca. Fazemos o acolhimento e oferecemos toda a orientação necessária para que o migrante siga viagem com segurança ou possa permanecer em Corumbá com dignidade”, afirmou o coordenador Iber Mosciaro Gomes.

Migrantes chegam de diferentes formas, alguns ingressam de maneira regular, passando pela Polícia Federal, enquanto outros procuram diretamente a Casa, já conhecida internacionalmente.

“Muitos já sabem da existência do serviço antes mesmo de chegar. Recebemos pessoas que vêm com nomes e contatos anotados, indicando que a Casa é referência entre comunidades migrantes”, explicou Iber.

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O atendimento inclui explicações sobre os procedimentos exigidos pela Polícia Federal, como pedido de residência, refúgio ou autorização de permanência temporária. Em casos específicos, o migrante é orientado a registrar boletim de ocorrência, que pode garantir até 60 dias para regularização.

Países como Venezuela e Haiti têm acordos humanitários que facilitam o processo. Já em casos de colombianos, por exemplo, é necessário retornar à origem para regularizar os documentos antes de entrar no Brasil”, detalhou a psicóloga Gislaine Melise Aguiar da Conceição.

A comunicação entre os estrangeiros também se transformou. “O WhatsApp é hoje um dos principais meios de organização. Eles compartilham informações sobre onde encontrar abrigo e orientação. Muitos chegam sem documentação regular e procuram aqui o primeiro apoio para entender como se regularizar”, acrescentou Gislaine.

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Famílias com crianças têm prioridade no acolhimento, enquanto pessoas sozinhas são encaminhadas à Casa de Passagem, na rua Edu Rocha. O fluxo é constante e variável, em alguns dias, chegam trinta pessoas; em outros, dez. “As famílias vêm e vão conforme resolvem suas situações. Algumas permanecem por uma semana, outras por mais de um mês, dependendo da documentação e das condições financeiras”, informou Iber.

Os principais destinos dos migrantes são os estados do Sudeste e cidades de Mato Grosso do Sul, como Campo Grande e Dourados, onde há comunidades organizadas, especialmente de venezuelanos. A equipe também observa o crescimento de colombianos e de pessoas deportadas dos Estados Unidos que reingressam na América do Sul pelo território boliviano, fenômeno recente na região.

Desde janeiro, cerca de 1.700 migrantes passaram pela Casa, segundo estimativa da coordenação. O serviço mantém parcerias com a UFMS, a Defensoria Pública da União, a Polícia Federal, a Pastoral do Migrante e a Organização Internacional para as Migrações, entre outras entidades.

Atualmente, o espaço funciona 24 horas por dia, com equipe de 13 profissionais, entre técnicos, cuidadores, cozinheiro, motorista e equipe administrativa. Uma nova sede está em fase de implantação, com recursos de uma emenda parlamentar de R$ 1,6 milhão para reforma e ampliação, além de R$ 800 mil do governo federal destinados ao mobiliário. O novo prédio, localizado entre as ruas Dom Pedro II, 21 de Setembro e Luís Feitosa Rodrigues, deve oferecer estrutura ampliada para acolher famílias e crianças.

Mais do que um abrigo, a Casa do Migrante se consolidou como espaço de solidariedade e reconstrução. “Cada pessoa que passa por aqui traz uma história de coragem e esperança. Nosso trabalho é garantir que esse recomeço seja feito com dignidade”, resumiu Gislaine.

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