Um pedido incomum feito por telefone levou a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul a identificar e atender uma situação de violência doméstica em Campo Grande. Ao ligar para o número da PM, a mulher solicitou uma “dipirona”, simulando contato com uma farmácia. A chamada, no entanto, era um disfarce para pedir ajuda sem levantar suspeitas do agressor.
A conversa foi registrada pelo Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) e publicada pela corporação nesta terça-feira (5), como parte da campanha Agosto Lilás, que reforça o combate à violência contra a mulher. Na gravação, o atendente estranha o pedido e pergunta se há algo acontecendo no local. A mulher insiste no nome do remédio. Percebendo o tom da situação, o policial conduz a conversa com cuidado e passa a utilizar uma linguagem metafórica para entender a gravidade do caso.
“10 miligramas, 20 miligramas ou 30 miligramas?”, questiona o atendente, em referência ao nível de agressividade. A vítima responde “30”. Com a confirmação de que o homem era seu companheiro e estava no local, uma equipe foi imediatamente enviada ao endereço informado e conseguiu resgatar a mulher.
Dias após o atendimento, a vítima entrou novamente em contato com a central para agradecer. “Eu liguei para agradecer. No dia em que liguei, vocês me atenderam muito rápido. É só agradecer mesmo, porque tudo isso aconteceu no sábado”, disse na nova ligação. A corporação não divulgou dados pessoais da mulher, para preservar sua identidade.
Segundo a Polícia Militar, o caso foi registrado no início deste ano. Apesar da divulgação recente do vídeo, a ação já havia sido concluída com a retirada segura da vítima.
O episódio foi divulgado no contexto da campanha Agosto Lilás, que orienta sobre canais de denúncia e sinais discretos que podem ser usados por vítimas de violência doméstica. Entre os códigos usados internacionalmente estão o sinal da mão fechada e o uso de batom vermelho na palma da mão.
De acordo com dados oficiais, Mato Grosso do Sul já contabiliza 21 feminicídios em 2025. Uma das vítimas mais recentes foi Salvadora Pereira, assassinada com um tiro no rosto disparado pelo companheiro, dentro da própria casa. O crime foi presenciado por cinco crianças. Um dos filhos do autor, de apenas 8 anos, ligou para o Corpo de Bombeiros para pedir socorro à madrasta. O suspeito foi preso.
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