Estrangeira fica 6 meses presa sem denúncia formal em presídio de Mato Grosso do Sul

Mulher paraguaia passou mais de seis meses presa em Ponta Porã, MS, sem denúncia formal do Ministério Público. Caso foi descoberto durante inspeção da Defensoria Pública.
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  • Post publicado:23 de julho de 2025

Uma mulher de nacionalidade paraguaia passou mais de seis meses presa no Presídio Feminino de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, sem que houvesse qualquer denúncia formalizada contra ela. A falha só foi descoberta após uma inspeção realizada pela Defensoria Pública na unidade prisional da fronteira com o Paraguai.

A estrangeira foi detida preventivamente em 5 de dezembro de 2024, após audiência de custódia na comarca de Porto Murtinho, quando a Justiça homologou o flagrante e justificou a prisão com base na necessidade de preservar a ordem pública. Desde então, nenhum andamento processual foi registrado, e o Ministério Público sequer apresentou a denúncia dentro do prazo legal.

Durante a visita, o defensor público substituto Diogo Alexandre Freitas relatou que a mulher sequer compreendia o motivo de estar presa e enfrentava dificuldades adicionais por não falar português. A análise do sistema judicial revelou que havia dois processos em aberto contra ela, ambos sem movimentação desde o fim de 2024.

A legislação brasileira determina que, em casos de prisão preventiva, o Ministério Público deve apresentar denúncia no prazo máximo de cinco dias. A inércia processual motivou defensores públicos das comarcas de Ponta Porã, Bela Vista e Porto Murtinho a ingressarem com um pedido de habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

No documento, os defensores apontaram o constrangimento ilegal imposto à mulher e destacaram a ausência de diligências pendentes nos autos. Também foi citado o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, do CNJ, que orienta o Judiciário a observar situações de vulnerabilidade enfrentadas por mulheres privadas de liberdade.

Manter uma pessoa encarcerada por tanto tempo, sem acusação formal e sem qualquer justificativa processual, viola diretamente o direito à razoável duração do processo e o princípio do devido processo legal”, afirmou o defensor.

O Tribunal acolheu os argumentos da defesa e determinou o relaxamento da prisão preventiva, considerando que a mulher é ré primária, sem antecedentes, e que sua liberdade não representa risco à instrução do processo nem à aplicação da lei penal.

Após a decisão, a estrangeira foi colocada em liberdade, mas seguirá sob medidas cautelares impostas pela Justiça. Ela deverá usar tornozeleira eletrônica por seis meses, está proibida de manter qualquer tipo de contato com a suposta vítima e deve manter uma distância mínima de 300 metros. Também não poderá deixar a cidade por mais de oito dias sem autorização judicial.

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