Internos da Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II, em Campo Grande, confeccionaram e doaram 1.019 peças de inverno ao Hospital São Julião. A entrega foi realizada nesta semana e incluiu camisetas, calças, blusas, casacos, bermudas, almofadas e mini-travesseiros, produzidos ao longo de dois meses como parte de uma ação de ressocialização aliada à solidariedade.
A iniciativa integra o programa Malharia Social, da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), e conta com apoio da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen). O projeto oferece capacitação profissional aos reeducandos por meio da doação de máquinas de costura às unidades prisionais de Mato Grosso do Sul.
Ressocialização com propósito
Além de aprenderem um ofício, os participantes do projeto recebem remição de pena e têm a oportunidade de reconstruir a autoestima e o vínculo com a sociedade. “Essa ação demonstra como o trabalho prisional pode transformar vidas, tanto de quem está privado de liberdade quanto de quem enfrenta outras batalhas, como as doenças”, destacou a diretora de Assistência Penitenciária da Agepen, Maria de Lourdes Delgado Alves.
Parceria com impacto real
As peças foram destinadas aos pacientes do Hospital São Julião, referência no tratamento de doenças como hanseníase e tuberculose. A coordenadora de Relações Institucionais da unidade, Cátia Almeida, emocionou-se durante a solenidade:
“É empatia em forma de tecido. Vocês estão ajudando alguém a ajudar alguém. A sociedade reconhece esse valor.”
A parceria funciona de forma colaborativa: o hospital fornece os insumos, enquanto a Agepen disponibiliza mão de obra qualificada e maquinário. Esta foi a segunda doação feita pela penitenciária ao hospital em 2025 – em janeiro, mais de 600 peças foram entregues.
História de recomeço
Quatro internos atuam diretamente na produção. Um deles é P. P. L., de 41 anos, que coordena a oficina e hoje acumula 10 anos de experiência em costura dentro do sistema prisional. “Já me formei em Gestão Imobiliária e agora estou concluindo Administração. Tudo dentro da prisão”, contou.
Outro participante, J. S., de 59 anos, iniciou na oficina há apenas três meses. “Minha mãe era costureira. Talvez tenha herdado algo dela. Aqui estou aprendendo tudo, e faço com gosto. É também uma obrigação moral”, relatou.
Reconhecimento institucional
Durante a entrega, representantes da Agepen, da Senappen, da Defensoria Pública e do Hospital São Julião reforçaram o compromisso com a ressocialização como ferramenta de reintegração social. O policial penal federal Carlos André dos Santos Pereira, da Senappen, resumiu:
“A Malharia Social seleciona quem quer mudar. E quem está aqui merece ser reconhecido.”
