A Bolívia vive uma escalada de violência com consequências trágicas. Quatro policiais bolivianos foram mortos durante confrontos ocorridos na cidade de Llallagua, no norte de Potosí, cenário de intensos bloqueios organizados por apoiadores do ex-presidente Evo Morales.
Os protestos, que exigem a renúncia do presidente Luis Arce, resultaram em emboscadas e ataques com armas de fogo além do uso de explosivos contra as forças de segurança enviadas para restabelecer a ordem na região.
Entre os agentes mortos estão os segundo-tenentes Brayan Jorge Barrozo Rodríguez, recém-formado pela Academia Nacional de Polícia, e Carlos Enrique Apata Tola, ambos ligados ao Comando Departamental de Oruro.
O terceiro morto, o sargento Alberto Mamani, integrava o Corpo de Bombeiros de Potosí e foi atacado enquanto auxiliava na tentativa de retomar o controle da cidade.
Na manhã desta quarta-feria, a Polícia Boliviana confirmou também o falecimento do policial Christian Calle Alcón
Emboscada armada chocou população e causou pânico
Os acontecimentos começaram ainda pela manhã de quarta-feira (11), quando cerca de 500 policiais vindos de Oruro chegaram à região para tentar desbloquear vias e conter os atos violentos. O reforço era esperado com esperança pela população de Llallagua, isolada há dias sem alimentos e combustível. No entanto, os agentes foram surpreendidos por uma emboscada próxima à Ponte Katiri, onde moradores armados os aguardavam em uma zona montanhosa.
O ônibus que transportava os policiais foi alvo de pedras, dinamite e tiros disparados por manifestantes, resultando em uma cena de caos e violência. Barrozo caiu durante o ataque, e seus colegas tentaram protegê-lo com escudos. Apata foi localizado mais tarde com sinais de agressão no leito de um rio seco.
O veículo usado na operação foi incendiado e diversos agentes ficaram feridos, entre eles o capitão Daynor Miranda Blanco, que permanece em estado grave.

Escalada de tensão política e responsabilização direta
Após o ataque, o presidente Luis Arce convocou uma reunião emergencial com sua equipe ministerial e os comandantes da Polícia Nacional e das Forças Armadas para avaliar a situação.
Embora a possibilidade de decretar estado de sítio tenha sido debatida, o governo optou por não seguir com a medida, sob o argumento de que isso fortaleceria a narrativa de Morales e poderia inviabilizar as eleições programadas para agosto.
Parlamentares e candidatos de oposição responsabilizaram Evo Morales pelas mortes, acusando-o de incitar uma guerra civil em benefício próprio. Samuel Doria Medina, Jorge Tuto Quiroga e Manfred Reyes Villa se manifestaram publicamente, prestando condolências às famílias dos policiais mortos e acusando Morales de promover um movimento violento e inconstitucional para tentar voltar ao poder.

O próprio Morales negou ser o organizador dos bloqueios, embora tenha reafirmado o apoio das bases sociais à mobilização. Ele comparou Arce ao ex-presidente americano Donald Trump e acusou o governo de isolar regiões que tradicionalmente o apoiam.
Ministério Público promete apuração rigorosa
Com a repercussão nacional das mortes, o procurador-geral Roger Mariaca informou a abertura de uma investigação ampla para identificar os responsáveis diretos e intelectuais pelas mortes e ataques em Llallagua. A operação contará com apoio das forças de segurança e pretende responsabilizar todos os envolvidos, incluindo cúmplices e organizadores dos atos.
Enquanto isso, grupos favoráveis a Morales anunciaram uma nova marcha em La Paz exigindo a renúncia de Arce, ao passo que comunidades indígenas da região de Llallagua declararam estado de emergência e prometeram ampliar os bloqueios. Após o ataque, moradores revoltados incendiaram a sede do ayllu de Chullpa, apontado como um dos centros de organização da resistência.
A Bolívia segue em clima de instabilidade, marcada por confrontos, luto e crescente pressão sobre as autoridades em meio à disputa interna no MAS (Movimento ao Socialismo) e às vésperas de eleições nacionais.
*As informações são do jornal El Deber