O sorriso inocente de Sophie, uma bebê que havia acabado de dar os primeiros passos, foi a última lembrança antes do crime que deixou até os policiais mais experientes sem palavras. Ao entrar no quarto, o pai — João Augusto de Almeida — foi recebido com carinho pela filha, que não sabia que estava prestes a ser morta pelo próprio genitor.
O gesto, descrito com frieza durante o interrogatório, marcou o ponto mais brutal de um crime já investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Campo Grande.
O caso, ocorrido na última segunda-feira (26), revelou não somente um assassinato premeditado, mas uma ausência completa de remorso. A sequência de atos narrada por João causou espanto no delegado Rodolfo Daltro, responsável pela investigação.
De acordo com o delegado, o momento em que o autor relatou o sorriso da filha foi especialmente perturbador para todos os presentes na delegacia.
Sem qualquer hesitação, o suspeito contou que Sophie estava no quarto, rodeada por brinquedos, quando ele entrou. Ao vê-lo, a menina sorriu — e, mesmo diante desse gesto de afeto, ele a pegou pelo pescoço e a asfixiou até a morte.

Depois de matar a esposa e filha, incendiou os corpos das duas. Tudo isso durante o horário de almoço, que ele alterou propositalmente naquele dia para ter tempo de executar o plano.
De acordo com a polícia, o duplo homicídio já vinha sendo planejado há pelo menos dois meses. A motivação apresentada por João foi a recusa em pagar pensão ou continuar bancando as despesas da casa, principalmente após o nascimento da filha.
Segundo o delegado Daltro, o autor chegou a afirmar que “não pagaria pensão para duas mulheres” e expressou desprezo pela condição feminina das vítimas. “A sensação é de que, se fosse um menino, ele talvez não tivesse feito isso”, disse o delegado, visivelmente abalado com o conteúdo do depoimento.
Outros trechos também chamaram a atenção pela crueldade. Testemunhas contaram que João já falava sobre a intenção de matar esposa e filha, mas ninguém acreditava. Em uma dessas conversas, ele chegou a pedir ajuda para aprender a fazer nós e amarrar as vítimas, além de mencionar que precisava queimar os corpos para evitar o cheiro. “Ele disse que precisava carbonizar os corpos logo, antes que começassem a feder”, relatou o delegado.

Apesar do planejamento do crime, nas redes sociais João sustentava a imagem de pai dedicado. Se descrevia como “pai da Sophie” e publicava fotos com a menina e a esposa, sendo a última postagem registrada no dia 10 de fevereiro.
Após os assassinatos, ele ainda tentou despistar familiares e amigos, dizendo que Vanessa havia saído para encontrar uma amiga e não retornou. Segundo a polícia, a intenção era fazer com que os corpos fossem encontrados dias depois, o que lhe daria margem para acusar outra pessoa.
João foi preso em flagrante por feminicídio qualificado e ocultação de cadáver. Durante o interrogatório, demonstrou total frieza e negou arrependimento. “Dormi melhor do que nunca, me livrei de um problema”, afirmou à polícia.