Enquanto o acesso a empréstimos se torna cada vez mais restrito para parte da população, uma nova abordagem no crédito do trabalhador começa a ganhar força no setor privado.
A proposta é modernizar o modelo tradicional do consignado ao incorporar tecnologias como o open finance e utilizar o FGTS como garantia adicional, tornando as condições mais vantajosas e menos arriscadas para trabalhadores e instituições financeiras.
A reformulação, apresentada em março, permite que funcionários da iniciativa privada façam empréstimos com desconto em folha, uma prática antes restrita a servidores públicos. A novidade amplia o escopo do crédito consignado e aposta em dados compartilhados para oferecer soluções personalizadas e taxas mais acessíveis.
Open finance revoluciona análise de crédito com base no comportamento
Para especialistas do setor, o grande diferencial da nova fase está na adoção do open finance. Ao autorizar o compartilhamento de informações financeiras com instituições, o trabalhador permite uma análise mais precisa do seu perfil. Isso vai além do score de crédito, incluindo hábitos de consumo, fluxo de caixa e histórico de pagamentos — elementos que ajudam a identificar a real capacidade de pagamento e a ajustar o crédito à realidade do cliente.

Segundo Rogerio Melfi, cofundador da fintech PilotIn, o Brasil vive uma oportunidade única de reconstruir a lógica da concessão de crédito. Ele destaca que, historicamente, o sistema foi desenhado com base em informações limitadas, o que gerou distorções, taxas elevadas e exclusão de milhões de pessoas.
Adesão ainda é tímida entre trabalhadores da iniciativa privada
Mesmo com as vantagens, o crédito consignado ainda tem baixa penetração no setor privado. Dados da plataforma meutudo mostram que apenas 12% dos trabalhadores optam por essa modalidade. Melfi acredita que a resistência está ligada à experiência pouco intuitiva e burocrática, além do desconhecimento sobre os benefícios desse modelo.
Na PilotIn, soluções com inteligência artificial e modelos preditivos ajudam a prever o impacto do crédito antes mesmo da contratação. A tecnologia avalia se o empréstimo representará um alívio financeiro ou um risco de endividamento futuro. Essa antecipação contribui para uma concessão mais consciente e adaptada às necessidades do trabalhador.
Mudança cultural exige linguagem clara e foco no usuário
O avanço do crédito do trabalhador também demanda transformação cultural. Para que a inovação se consolide, é necessário criar um ambiente de confiança, transparência e comunicação direta. Interfaces simples, linguagem acessível e clareza nas condições contratuais são fundamentais para que o trabalhador compreenda os termos e tome decisões seguras.

Melfi ressalta que o sistema atual ainda carrega traços de desconfiança e generalização, legados de um cenário onde faltavam dados. Com o open finance, o mercado tem a chance de corrigir esse caminho, criando soluções mais justas, empáticas e baseadas em evidências concretas.
Open finance pode repetir sucesso do Pix no sistema financeiro
A aposta no open finance como motor de transformação lembra a adoção do Pix, que revolucionou os pagamentos no país. Para especialistas, o Brasil mostrou que é possível liderar inovações no setor financeiro. A expectativa é que a abertura dos dados gere impactos semelhantes no mercado de crédito, tornando o serviço mais acessível e menos desigual.
A visão de futuro é de que o crédito não deve ser um privilégio nem uma armadilha. Com tecnologia, inteligência e foco no usuário, é possível torná-lo um recurso de autonomia e equilíbrio financeiro para milhões de brasileiros.