1º de Maio: data marca lutas históricas e desafios atuais dos trabalhadores

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  • Post publicado:1 de maio de 2025

O 1º de Maio, conhecido como Dia do Trabalhador, tem origem em manifestações operárias realizadas nos Estados Unidos no século XIX. Em 1886, uma greve geral em Chicago pela redução da jornada diária de trabalho para oito horas terminou com repressão policial, mortes e condenações severas. O episódio ficou conhecido como a Revolta de Haymarket e, em 1889, foi escolhido como símbolo internacional da luta trabalhista durante a Internacional Socialista.

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Samuel Fernando De Souza, professor da Escola Dieese de Ciências do Trabalho. Foto: Samuel Fernando/Arquivo Pessoal

Segundo o historiador Samuel Fernando de Souza, da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, “vários líderes foram condenados à morte, e a data passou a ser símbolo de resistência da classe trabalhadora”.

A pesquisadora Laura Valle Gontijo, da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a explosão de uma bomba na manifestação serviu como justificativa para a polícia atirar contra os trabalhadores. “Oito foram acusados de conspiração, mesmo sem provas diretas. Quatro foram enforcados, um se suicidou. É em memória a esses trabalhadores que se comemora a data”, afirma.


Data foi incorporada ao calendário brasileiro no fim do século XIX

No Brasil, as primeiras comemorações do 1º de maio ocorreram em 1891, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Com o tempo, a data passou a ter diferentes significados políticos. Durante o governo de Getúlio Vargas, foi institucionalizada como Dia do Trabalho e marcada por anúncios de medidas trabalhistas, como o lançamento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Após o golpe militar de 1964, a data perdeu seu caráter reivindicatório e foi esvaziada de conteúdo político. No entanto, voltou a ser símbolo de mobilização no final dos anos 1970, com o surgimento do Novo Sindicalismo e atos organizados por trabalhadores do ABC paulista.


Disputa simbólica entre “Dia do Trabalhador” e “Dia do Trabalho”

A forma como a data é nomeada reflete uma disputa simbólica. Para Laura Gontijo, transformar o “Dia do Trabalhador” em “Dia do Trabalho” é uma tentativa de neutralizar o seu conteúdo político. “É como se fosse uma celebração vaga, sem reivindicações concretas”, diz.

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Professora da UnB Laura Gontijo é pesquisadora do Departamento de Sociologia e autora de pesquisas voltadas a entender os desafios do trabalho no mundo contemporâneo. Foto: Laura Valle Gontijo/Arquivo Pessoal

Ela compara a situação ao que ocorre com o Dia Internacional da Mulher, muitas vezes esvaziado de pautas feministas e transformado em homenagem genérica.


Demandas atuais: jornada, direitos e plataformas digitais

A pesquisadora aponta que as lutas atuais dos trabalhadores ainda giram em torno da redução da jornada e da preservação de direitos. Entre os principais desafios, estão a pejotização — que desobriga empresas de cumprir garantias trabalhistas — e a ausência de regulamentação para trabalhadores de aplicativos.

Dados de 2022 mostram que entregadores por aplicativo chegam a trabalhar até 80 horas semanais, número próximo às jornadas do início da Revolução Industrial. “Dois séculos depois, ainda vemos trabalhadores em jornadas excessivas, superiores às 44 horas semanais previstas em lei”, afirma Laura.


Escala 6×1 e a luta por descanso digno

A pesquisadora também critica a prática da escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — comum em diversos setores. Projetos de lei em tramitação no Congresso propõem alterar esse regime para garantir dois dias de folga por semana.

“A ausência de um dia fixo de descanso inviabiliza qualquer convívio familiar ou atividade de lazer. É insustentável”, alerta.


Redução da jornada semanal: uma pauta atual

Entre as propostas em discussão está a redução da jornada semanal para 35 ou 36 horas, sem redução salarial. Laura argumenta que a jornada menor deve vir acompanhada de limites diários claros, para evitar que o tempo de trabalho seja apenas redistribuído.


Produtividade aumentou, mas ganhos não chegam ao trabalhador

Com o avanço tecnológico, a produtividade das empresas aumentou significativamente, mas os benefícios não foram compartilhados com os trabalhadores. Segundo a pesquisadora, isso ampliou a mais-valia — o lucro gerado pelo trabalho não pago — e intensificou a exploração.

“O uso da tecnologia deveria permitir menos horas de trabalho, mas tem ocorrido o contrário: ela tem sido usada para intensificar a carga de trabalho”, conclui.

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