O projeto Padaria da Liberdade, desenvolvido dentro do regime semiaberto masculino da Gameleira, em Campo Grande, está prestes a atingir a marca de 1 milhão de pães doados. A expectativa é que o número seja alcançado em maio, após quase quatro anos de atividade contínua no sistema prisional.
A estrutura funciona no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, com capacidade para produzir até 7 mil pães por dia, após uma recente ampliação no maquinário. Atualmente, são cerca de 5 mil unidades diárias, das quais parte é vendida a empresas responsáveis pela alimentação de presídios, e outra parte é destinada a instituições sociais.
De junho de 2021 até março deste ano, já foram doadas 32 toneladas de pães a 112 entidades cadastradas no programa Mesa Brasil, coordenado pelo Sesc/Senac. Somente no mês passado, foram distribuídas 21.200 unidades, alcançando mais de 29 mil pessoas por meio de instituições como Hospital São Julião, Pestalozzi e abrigos de acolhimento.
A padaria opera com modelo autossustentável, viabilizado por um desconto de 10% nos salários dos internos que trabalham no local. Sete reeducandos atuam na produção e recebem remuneração equivalente a um salário mínimo, conforme previsto nos convênios firmados com empresas.
A qualificação é oferecida pelo Senac, com cursos profissionalizantes em panificação, confeitaria e manipulação de alimentos. Todos os participantes recebem certificação válida para inserção no mercado formal.
Criado em 2021, o projeto surgiu por iniciativa do juiz Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande. Segundo ele, a proposta alia cumprimento da pena com retorno efetivo à sociedade.
“Esse mecanismo garante que o preso cumpra sua pena de forma adequada. Ele exerce uma atividade produtiva, e com isso gera benefícios concretos à sociedade”, afirma.
A produção acumulada até fevereiro deste ano soma 2.557.997 pães. Desse total, 894.337 foram doados e 1.464.784 vendidos, demonstrando o equilíbrio entre geração de receita e ação social. A comercialização legal dos produtos e aquisição de insumos é feita por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec), vinculada à UFMS.
Além da padaria, a unidade do semiaberto também mantém uma horta, com parte da colheita direcionada para entidades assistenciais. Ambas as ações integram as estratégias de ocupação produtiva, com foco na redução da reincidência criminal e na valorização da dignidade humana.
Para o diretor da unidade, Ricardo Teixeira de Brito, o projeto demonstra que o sistema prisional pode ser espaço de transformação.
“Com disciplina, capacitação e parceria, estamos formando profissionais, promovendo a ressocialização e alimentando quem mais precisa”, resume.
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