No Pantanal, onde o acesso por terra é limitado e as distâncias entre comunidades são vastas, o planejamento logístico da Marinha do Brasil se torna o alicerce de missões essenciais.
Do transporte de suprimentos a unidades isoladas até o envio de equipamentos para o combate a incêndios florestais, cada etapa é coordenada por equipes do Comando do 6º Distrito Naval (Com6ºDN), sediado em Ladário.
No centro dessa engrenagem está o trabalho do Oficial Intendente da Marinha, que completou 255 anos de história em 2025.
A logística que antecede cada operação
A movimentação de pessoal e recursos para ações no Pantanal começa muito antes da partida dos navios. Conforme explicou a Capitão-Tenente (Intendente) Heloá Lima de Araújo, da subseção de Planejamento e Finanças do Com6ºDN, “o planejamento é a base para o sucesso das operações militares”.
Segundo ela, é preciso lidar com incertezas, mudanças rápidas de demanda e restrições orçamentárias. “A priorização dos gastos e a escolha dos meios a serem empregados são tarefas imprescindíveis”, completou.
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O sistema é sustentado por sete funções logísticas principais: engenharia, manutenção, recursos humanos, salvamento, saúde, suprimento e transporte. Essas áreas garantem que o Navio de Assistência Hospitalar “Tenente Maximiano”, por exemplo, continue prestando atendimento médico e odontológico às populações ribeirinhas.
Da mesma forma, Fuzileiros Navais em atuação em regiões remotas recebem apoio constante — de alimentos a armamentos e equipamentos de comunicação — por meio da estrutura organizada pelo Centro de Intendência da Marinha em Ladário (CeIMLa).
“Prever para prover”: o lema que move a Intendência
O Capitão de Fragata (Intendente) Osmar da Silva Junior, que dirige o CeIMLa, destacou a amplitude das atribuições. Segundo ele, o lema “Prever para prover” reflete o papel da Intendência: “Nosso foco principal é atender às necessidades logísticas das organizações subordinadas ao Com6ºDN, especialmente em suprimento de material, transporte e apoio às manutenções”.
Essa atuação envolve desde a aquisição de materiais e contratação de serviços até a gestão do orçamento, execução financeira e pagamento de pessoal. Em uma área com desafios logísticos constantes, manter esse sistema funcionando é tarefa diária.
Alimentação, combustível e insumos estratégicos
Um dos maiores obstáculos é o abastecimento contínuo de gêneros alimentícios no Complexo Naval de Ladário. Os alimentos são adquiridos no Rio de Janeiro, passam por controle de qualidade, sendo enviados por transporte terrestre, ferroviário ou, em casos emergenciais, por via aérea. A distância entre os depósitos e Ladário ultrapassa os 1.800 km.
O sistema exige precisão. “Navios em operação dependem desse fluxo contínuo”, reforça o Capitão de Fragata Osmar. Além dos alimentos, o mesmo cuidado é adotado com fardamentos, combustíveis, materiais de saúde e equipamentos de proteção individual.
Para evitar desabastecimento, há articulação constante entre os setores logísticos envolvidos. Produtos perecíveis e de demanda sazonal são adquiridos regionalmente, conforme disponibilidade local.
Hospital Naval: logística para atender em terra e em missões
O Hospital Naval de Ladário também opera sob planejamento estratégico. Segundo o Capitão de Mar e Guerra (Médico) Marcus Vinícius Miguez Oliveira, que dirige o hospital, é preciso manter o equilíbrio entre o atendimento à Família Naval e o suporte às missões, como a Operação ACRUX — considerada a maior operação ribeirinha combinada da América Latina.
A logística hospitalar envolve controle de estoques, planejamento de insumos médicos e rodízio de equipes para assegurar atendimento tanto em solo quanto a bordo de navios ou helicópteros.
Combate a incêndios e transporte de tecnologia
Durante a Operação Pantanal, que combateu queimadas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a logística da Marinha foi essencial para o transporte de equipamentos como bombas, mangueiras, drones de mapeamento, roupas especiais, câmeras termográficas e detectores de gás. A agilidade no envio e distribuição desses itens possibilitou atuação rápida e eficaz em áreas críticas.
Projeto NAVIO: apoio a missões científicas e sociais
O trabalho logístico também tem sido decisivo no suporte a projetos sociais e de pesquisa. O advogado e pesquisador Gilson Carlos Soares participou da primeira edição do projeto NAVIO (Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada), onde a Marinha cedeu espaço em seus navios para laboratórios móveis.
Segundo ele, o apoio logístico foi essencial. “Tivemos combustível, alimentação, acomodações, acesso a comunidades isoladas e até adaptação de dormitórios para laboratórios de biologia molecular”, relatou. Gilson também destacou a receptividade da tripulação: “Nos sentimos acolhidos, como uma grande família unida por uma causa”.
Ele lembrou ainda da atuação de militares como o Suboficial Ricardo Luiz de Souza Silva, que chegavam às comunidades antes da equipe civil para montar estruturas de atendimento.
Prontidão no coração do Brasil
O Centro de Intendência da Marinha (CeIMLa), posicionado estrategicamente em Ladário, sustenta não somente o fluxo de materiais, mas toda a retaguarda administrativa para garantir a prontidão das operações. Seja em ações humanitárias, de defesa ou apoio ambiental, a logística bem executada é o que transforma planejamento em presença efetiva no Pantanal.
