Após 17 anos sem registro de mortes por ataque de onça-pintada no Pantanal, o caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto neste fim de semana na região de Touro Morto, a cerca de 150 km de Miranda.
Segundo o pesquisador Diego Viana, mestre em Ciências Ambientais e especialista em felinos pantaneiros, a última fatalidade havia sido registrada em 2008, no município de Cáceres (MT), também em circunstâncias ligadas à chamada ceva — prática de oferta de alimento a animais silvestres.
Conforme detalhou Diego Viana ao Correio do Estado, a morte mais recente por onça no Pantanal antes do caso de Jorge Avalo aconteceu em 24 de junho de 2008, quando Luiz Alex Silva Lara, de 22 anos, foi atacado enquanto dormia em uma barraca na região do Pacu Gordo, às margens do Rio Paraguai. Técnicos do ICMBio constataram na ocasião que havia ceva no local, prática comumente adotada por operadores turísticos, embora seja proibida por lei.

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Ainda conforme o pesquisador, em 2023 houve outro ataque no bioma, desta vez sem vítimas fatais. Um peão de 40 anos foi surpreendido por uma onça-pintada na região do Paiaguás, em Corumbá, após verificar o motivo dos latidos dos cães na fazenda onde trabalhava. Ferido, ele foi resgatado por avião até a cidade.
A ocorrência mais recente reacende o debate sobre o convívio entre humanos e grandes predadores. O ataque que tirou a vida de Jorge Avalo está sendo investigado por peritos, e ainda não se sabe se havia prática de ceva ou outras ações humanas que possam ter atraído o animal para o local.
Fatores de risco
O comportamento de agressividade das onças-pintadas em relação aos humanos, não é considerado comum, segundo afirmou Viana. O pesquisador, no entanto, ressalta que apesar de raro, pode ocorrer em determinadas circunstâncias.
Entre as razões elencadas por ele, estão:
- Disputa por território
- Encontros repentinos em mata fechada
- Defesa dos filhotes
- Período reprodutivo
Diego lembra ainda que fatores humanos podem promover a aproximação dos felinos, aumentando os riscos de um conflito como a criação de cães nas margens dos rios e o fornecimento de carcaças para atrair os animais — algo ainda registrado em algumas regiões do Pantanal, apesar de ser ilegal desde 2015, conforme a Lei Estadual nº 8.912.

“Essa lei proíbe expressamente esse tipo de alimentação artificial. O turismo de avistamento precisa ser feito de forma responsável”, afirmou o pesquisador.
Para o pesquisador, a redução dos riscos de um ataque de felinos a humanos passam obrigatoriamente por ações preventivas, mas principalmente por uma conscientização ambiental, especialmente sobre a importância de se respeitar os hábitos naturais dos animais silvestres.
Viana reforçou que é possível reduzir o risco de ataques por meio de ações preventivas. Entre as medidas indicadas estão a instalação de cercas elétricas em propriedades rurais, uso de repelentes luminosos e olfativos e, principalmente, a promoção de educação ambiental em áreas de maior coexistência com os felinos.
Além disso, ele defende o desenvolvimento de protocolos de segurança contínuos e a conscientização das populações locais sobre a importância de respeitar os hábitos naturais dos animais selvagens.