Com a aproximação da Páscoa, o costume de presentear ovos de chocolate movimenta o comércio em todo o país. Segundo levantamento da empresa Nexus, 52% dos brasileiros pretendem comprar ovos neste ano, com uma média de três unidades por pessoa. Mas essa prática tão comum atualmente tem origem em tradições bem diferentes das que vemos nas prateleiras dos supermercados.
Antes da popularização dos chocolates, os ovos usados como presentes eram naturais — de galinha, pato ou até avestruz — e decorados manualmente com tintas e enfeites. Essa tradição tem raízes em rituais antigos, muito antes do cristianismo, e também em costumes das igrejas orientais, onde o ovo simbolizava fertilidade, vida e renovação.
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A substituição dos ovos naturais pelos de chocolate está diretamente ligada à industrialização, conforme explica Ana Beatriz Dias Pinto, doutora em Teologia e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Segundo ela, “a prática de presentear ovos de chocolate é resultado de um processo de industrialização e mercantilização da Páscoa, que se intensificou ao longo do século XIX e permanece há 175 anos”.

A produção dos primeiros ovos de chocolate começou na França e na Alemanha por volta de 1850. Na época, a ideia era oferecer algo mais saboroso e visualmente atrativo. À medida que as indústrias alimentícias se desenvolveram, os produtos ganharam novos formatos, tamanhos e, principalmente, apelo comercial.
“Foi uma forma de presentear com algo mais gostoso e bonito. Antes eram ovos frágeis e pequenos. Há países onde já vi ovos do tamanho de uma pessoa”, relata Ana Beatriz.
Apesar do apelo comercial evidente, a professora ressalta que o símbolo do ovo ainda carrega um significado maior do que o consumo.
“Os ovos de chocolate acabam servindo ao consumismo de mercado, mas sua dimensão simbólica para a Páscoa verdadeira não está associada às campanhas publicitárias, brinquedos e embalagens festivas.”
Os dados da indústria ajudam a dimensionar essa transformação. A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Bala (Abicab) prevê que cerca de 45 milhões de ovos de chocolate sejam produzidos neste ano, mesmo com os impactos da crise na produção de cacau, que elevou os preços.