Março é o mês de conscientização sobre a endometriose, doença crônica que afeta 1 em cada 10 mulheres brasileiras, segundo o Ministério da Saúde. Caracterizada pelo crescimento do tecido endometrial fora do útero, a condição provoca dores incapacitantes, infertilidade e impactos psicossociais.
Em 2021, o SUS registrou 26,4 mil atendimentos e 8 mil internações relacionadas à doença, cujo diagnóstico pode demorar até 9 anos, conforme alertam especialistas.
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Sintomas e diagnóstico clínico
O principal sintoma é a cólica menstrual intensa, que se agrava progressivamente. “Muitas pacientes relatam dor desde a primeira menstruação, mas ouvem que ‘isso passa depois do casamento’. Quando buscam ajuda, a doença já está avançada”, explica o ginecologista Roberto Carvalhosa, com 44 anos de experiência no Hospital da Piedade (RJ). Outros sinais incluem dor pélvica crônica, desconforto durante relações sexuais e infertilidade.
O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado em histórico médico e exame físico. “Com anamnese rigorosa e exame de toque, a precisão chega a 98%. Infelizmente, muitos profissionais priorizam exames de imagem, como ultrassom, antes de avaliar o quadro completo”, critica Carvalhosa.
Tratamento e realidade no SUS
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) oferecem exames iniciais e encaminham casos graves para cirurgia. O tratamento varia conforme idade e gravidade: desde anti-inflamatórios até procedimentos laparoscópicos. A estudante Mônica Vieira, 25 anos, convive com a doença desde os 14 e optou por terapias naturais.
“Uso cúrcuma e evito hormônios, mas cada caso é único. Não existe fórmula padrão”, ressalta.
Desafios e impactos psicossociais
Além da dor física, a endometriose gera sofrimento psicológico e perda de produtividade. “Muitas mulheres deixam de trabalhar ou têm sua fertilidade comprometida. É uma doença benigna, mas de tratamento complexo”, afirma Carvalhosa. A estudante Mônica reforça: “Normalizamos a dor menstrual, mas isso atrasa diagnósticos. Precisamos falar mais sobre o tema”.
Cultura que silencia
Carvalhosa aponta que sintomas como dor intestinal ou urinária durante a menstruação são frequentemente ignorados.
“Se a paciente relata diarreia ou sensação de inflamação na bexiga no período menstrual, já é um sinal de alerta. Mas muitos médicos não investigam”, diz. Para ele, a falta de valorização do exame clínico contribui para o diagnóstico tardio.
Caminhos para mudança
Campanhas de conscientização e capacitação de profissionais são urgentes. “Precisamos escutar as mulheres e investigar a fundo queixas de dor. A endometriose não pode ser tratada como ‘normal”, defende Mônica. Enquanto isso, o SUS segue como principal rede de apoio, mas enfrenta desafios como filas e acesso limitado a tratamentos especializados.
