A Bolívia deu um passo importante para sua industrialização com a inauguração da primeira siderúrgica estatal do país, que vai explorar o megadepósito de ferro de Mutún, localizado em Puerto Suárez, município na fronteira com Corumbá. O presidente Luis Arce esteve na região e destacou o papel do Estado como protagonista nesse avanço econômico.
Durante a cerimônia, realizada na segunda-feira (26), Arce afirmou: “Hoje, a industrialização de Mutún é uma realidade. Este é um sinal claro de que o Estado boliviano tem que ser e é o ator-chave para avançar em direção à industrialização do nosso país”.
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Investimento bilionário e desafios históricos
O projeto, que contou com um investimento de US$ 546 milhões, foi financiado por três fontes: um empréstimo chinês, recursos do Banco Central da Bolívia (BCB) e do Tesouro Geral da Nação (TGN). A construção da siderúrgica ficou sob responsabilidade da estatal chinesa Sinosteel Corporation, após tentativas frustradas com a brasileira EBX em 2006 e a indiana Jindal em 2007.

O caso da Jindal foi um dos mais emblemáticos. Em 2007, o governo de Evo Morales anunciou que a empresa faria o maior investimento mineiro da história boliviana, mas o contrato não avançou como esperado. Em 2012, após impasses com o Executivo, a Jindal abandonou o país.
Descoberto em 1848, o depósito de Mutún é considerado uma das maiores reservas de ferro do mundo, com potencial estimado de 40 bilhões de toneladas, segundo dados oficiais.
Capacidade de produção e impacto econômico
A siderúrgica tem capacidade para processar 800 mil toneladas de ferro bruto por ano e produzir 200 mil toneladas de ferro corrugado, o que cobrirá cerca de 50% da demanda do mercado interno. O governo boliviano estima que a planta poderá gerar receitas anuais de US$ 260 milhões, além de criar 700 empregos diretos e até 3.000 indiretos.

O complexo industrial abriga sete unidades especializadas:
- Concentração
- Pelotização
- Siderurgia
- Laminação
- Eletricidade
- Serviços auxiliares
- Redução direta de ferro
Expansão futura e impacto no modelo econômico
Arce confirmou que já há planos para uma segunda fase do projeto, visando dobrar a produção da usina. Ele ressaltou que o avanço da industrialização depende de uma decisão política firme.
“Estamos mostrando para todo o país que é possível industrializar o país, e que isso depende da decisão política de um governo determinado a produzir e construir uma economia sólida e diversificada”.

O modelo econômico adotado pelo governo tem o Estado como protagonista e aposta na substituição de importações por meio da industrialização dos recursos naturais. A inauguração da siderúrgica ocorre em um momento emblemático, já que a Bolívia se prepara para celebrar o bicentenário de sua independência.