Um estudo conduzido pelo Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Mato Grosso e Universidade Estadual de Campinas, revelou um cenário preocupante para a biodiversidade do Pantanal.
A pesquisa indica que entre 16% e 27% das espécies de anfíbios da região podem ser extintas até 2100, incluindo aquelas que vivem em áreas protegidas (APs). O principal fator para esse declínio seria o impacto das mudanças climáticas, que afetam diretamente o habitat desses animais.
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O professor Diego Santana, coordenador do Laboratório de Biogeografia e História Natural de Anfíbios e Répteis do Inbio e coautor do estudo, destacou que os anfíbios são extremamente vulneráveis às mudanças ambientais por dependerem de ambientes úmidos para sobreviver. Segundo ele, fatores como crises hídricas, incêndios florestais e degradação ambiental aumentam significativamente o risco de extinção desses animais.
Anfíbios e equilíbrio ecológico
Além de desempenharem um papel essencial na cadeia alimentar, os anfíbios são fundamentais para o controle de vetores de doenças.
“Só não temos crise de dengue, zika ou outras doenças emergentes em proporções ainda maiores porque existem os sapos, rãs e pererecas. Eles ajudam a controlar os insetos transmissores dessas enfermidades”, explicou Santana.
A pesquisa aponta que as projeções climáticas indicam perdas drásticas de habitat para essas espécies. Em um cenário otimista, espera-se que a área de ocorrência dos anfíbios seja reduzida em média 41% até 2100. Essa perda pode ter impactos severos não apenas para a biodiversidade, mas também para a economia, uma vez que a ausência de anfíbios pode resultar no aumento de pragas agrícolas, afetando culturas como soja e milho.
Impactos ambientais e econômicos
- Até 41% da área de ocorrência de anfíbios pode ser reduzida até 2100;
- Desaparecimento de espécies pode elevar a incidência de pragas agrícolas;
- Agronegócio pode sofrer prejuízos com aumento de insetos considerados pragas;
- Diminuição da biodiversidade afeta o equilíbrio ecológico e a saúde pública.
Espécies em risco e medidas de conservação
Entre as espécies ameaçadas, o estudo cita o Melanofrimiscus furvogutatus, um pequeno sapo de barriga vermelha encontrado somente na região de Porto Murtinho. Segundo Santana, essa espécie pode desaparecer nas próximas três ou quatro décadas, caso medidas de conservação não sejam adotadas.

O Pantanal, considerado a maior área úmida tropical contínua do mundo, está localizado na Bacia do Alto Paraguai e abriga 74 espécies de anfíbios, das quais 4% já estão oficialmente ameaçadas. O estudo alerta que, nos próximos 75 anos, mais de 80% dessas espécies perderão habitat adequado, e 99% dos conjuntos de anfíbios enfrentarão redução populacional devido ao impacto climático.
As áreas protegidas, apesar de desempenharem um papel fundamental na preservação da biodiversidade, podem perder sua eficácia a longo prazo caso não sejam adotadas estratégias de mitigação.
O artigo sugere que as terras altas, especialmente nas fronteiras norte e sudeste da Bacia do Alto Paraguai, sejam priorizadas para a ampliação da rede de proteção ambiental, por serem regiões que devem sofrer grandes alterações na biodiversidade nas próximas décadas.
Principais ameaças à biodiversidade do Pantanal
- Expansão da agricultura e desmatamento em áreas sensíveis;
- Redução de áreas úmidas devido a crises hídricas e secas severas;
- Aumento da incidência de incêndios florestais, como os de 2020, que devastaram 3,8 milhões de hectares e mataram mais de 17 milhões de animais vertebrados.
Monitoramento e preservação
Mato Grosso do Sul já conta com uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, criada para preservar a fauna e flora do Pantanal. No entanto, Santana destacou que a falta de pesquisas detalhadas sobre essa unidade limita a compreensão dos impactos ambientais e a criação de estratégias eficazes de conservação.

“Esse local foi estabelecido recentemente, e ainda não conseguimos desenvolver pesquisas aprofundadas ali, seja por questões burocráticas ou dificuldades de acesso. Existem muitas propriedades rurais que respeitam os limites de preservação, mas precisamos melhorar o monitoramento e fiscalização dessas áreas”, afirmou.
O estudo também reforça que, embora apenas duas espécies de anfíbios tenham sido oficialmente declaradas extintas no Brasil, diversas outras podem estar desaparecendo de forma silenciosa. A degradação do habitat natural pode resultar no desaparecimento gradual dessas espécies em determinadas regiões, antes mesmo que elas sejam classificadas oficialmente como extintas.
“Às vezes, a espécie não foi necessariamente extinta, mas sumiu de algumas áreas onde antes era comum. Isso também é preocupante, pois estamos perdendo biodiversidade de forma progressiva. O ambiente muda drasticamente e, sem ações efetivas, poderemos perder a beleza, os sons e a função ecológica dos anfíbios, o que pode levar ao declínio de outras espécies também”, concluiu Santana.