Monitoramento no Pantanal avança com foco na preservação das ariranhas

Monitoramento no Pantanal de Ariranhas
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  • Post publicado:28 de janeiro de 2025

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e a empresa Log Nature firmaram parceria para intensificar o monitoramento no Pantanal, com foco na conservação das ariranhas, também conhecidas como onças-d’água.

A colaboração permitirá a instalação de armadilhas fotográficas em áreas prioritárias, especialmente na região da Serra do Amolar, para registrar dados importantes sobre a espécie e o ambiente. Iniciado no final de 2024 pelas analistas ambientais do IHP, o projeto deve divulgar os primeiros resultados em breve.

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Assim como a onça-pintada, a ariranha é considerada uma espécie, guarda-chuva, atuando como bioindicadora da qualidade ambiental. Dependendo de ambientes aquáticos preservados para sobreviver, a espécie já perdeu até 40% de sua distribuição no Brasil, segundo estimativas.

Monitoramento no Pantanal

A iniciativa também contribui para o Plano de Ação Nacional para a Conservação das Ariranhas (PAN Ariranha), coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O IHP participa das ações em alinhamento com políticas públicas nacionais, buscando ampliar a proteção da espécie.

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Monitoramento no Pantanal permite o acompanhamento de espécies ameaçadas

De acordo com Mariana Queiroz, analista ambiental do IHP, a parceria trouxe avanços significativos nas estratégias de estudo.

Com o apoio da Log Nature, conseguimos monitorar áreas de difícil acesso e registrar informações detalhadas sobre as espécies ameaçadas. As armadilhas fotográficas possibilitam identificar famílias de ariranhas e seus comportamentos, integrando esses dados aos relatórios técnicos. Também estamos acompanhando outros animais ameaçados, como tatu-canastra, anta e gato-mourisco.”

Juliana Kleinsorge, CEO da Log Nature, destacou o impacto positivo da união de esforços. “Essa parceria combina a expertise do IHP na gestão de áreas protegidas com as tecnologias oferecidas pela Log Nature. Juntas, conseguimos potencializar o monitoramento e a preservação do Pantanal, fortalecendo ações de proteção da fauna e conservação do bioma.”

A expansão do monitoramento também contou com o apoio de pesquisadores do Projeto Ariranhas, criado em 2019 pela bióloga Caroline Leuchtenberger. Antes da instalação das armadilhas, as áreas de estudo foram mapeadas e analisadas para evitar interferências na paisagem e nos hábitos das ariranhas.

As equipes garantem que as atividades só são realizadas após confirmarem que não há animais próximos, minimizando impactos ao ambiente natural.

Sobre as ariranhas

Conforme dados do PAN Ariranha, essa espécie, que tem nome científico de Pteronura brasiliensis, é um mamífero carnívoro membro da família Mustelidae, da qual fazem parte animais comuns em regiões temperadas como o Vison, o Furão e o Texugo. No Brasil esta família é representada por seis espécies, entre elas os furões (Galictis cuja e G. vittata), a Irara (Eira barbara), e a doninha-amazônica (Mustela africana).

Com possibilidade de avistamento em Corumbá e Ladário, na região portuária dessas cidades, a ariranha é um animal semi-aquático, ou seja, vive tanto em ambientes terrestres quanto aquáticos sendo dotado de uma notável habilidade de natação e mergulho.

Também é um voraz predador e possui um intenso repertório vocal. É a maior espécie conhecida da família Mustelidae e, assim como as demais espécies deste grupo, foi amplamente caçada para abastecer o mercado de peles para confecção de vestuário e ornamentos.

Em função disso, a espécie experimentou uma grande redução em seus tamanhos populacionais, tendo desaparecido em determinadas áreas e é considerada regionalmente extinta em alguns estados. Embora tenha ocorrido redução na pressão de caça, diversos fatores de origem antrópica representam grandes ameaças à espécie e, por ser um animal que depende de corpos d’água para sobreviver, explorando neles grande parte dos recursos necessários à sua subsistência, a degradação dos rios e das matas ciliares representa hoje um fator particularmente significativo, assim como, de maneira associada, a diminuição de estoques pesqueiros causada pela sobrepesca”, detalha a política do PAN Ariranhas.

Outras ameaças para a espécie envolvem a construção de barragens para fins de aproveitamento hidrelétrico. Por alterar a hidrologia dos rios, a rota migratória dos peixes e obviamente impedir fisicamente a passagem de ariranhas, essas construções geram profundas mudanças locais na paisagem, podendo também afetar diretamente os grupos que ali residem.

Ariranhas e o equilíbrio no território

Os dados já computados a partir do PAN Ariranhas e outros estudos conduzidos sobre a espécie identificaram que esses animais têm um papel fundamental no equilíbrio dos ambientes aquáticos pelo controle de populações de outras espécies animais, principalmente peixes, inclusive espécies invasoras e pragas.

As ariranhas vivem em grupos familiares de até 17 indivíduos, formados por um casal dominante e seus descendentes dos dois ou três últimos anos, podendo também ser vistas solitárias, dependendo da época do ano. Há informações escassas quanto ao tamanho dos territórios dos grupos. Dados do PAN Ariranha sugerem variações em dimensões de acordo com características dos hábitats (ex., abundância de presas, regime hidrológico, entre outras) e com a densidade de ariranhas na área.

Em regiões sazonalmente alagadas, como Pantanal, e partes da Amazônia, a área de vida e o território dos grupos de ariranhas tendem a mudar drasticamente na época de cheia, uma vez que as tocas das margens dos rios usadas durante a seca são inundadas.

As fêmeas normalmente ficam reprodutivas apenas uma vez por ano, podendo, excepcionalmente, no caso de perda da prole, entrar no cio duas vezes no mesmo ano. Após uma gestação de aproximadamente 60 dias, nascem de um a cinco filhotes por ninhada, os quais atingem maturidade sexual entre os 2 e 3 anos de vida, quando deixam o grupo familiar para formar os seus próprios grupos.