O mais recente relatório do MapBiomas, divulgado no Dia do Pantanal, traz um panorama crítico para o bioma, que enfrenta uma combinação de secas intensas e cheias cada vez mais escassas. Estes fatores, somados ao avanço da agropecuária, vêm alterando o ciclo natural do Pantanal e impulsionando queimadas em áreas anteriormente alagadas. Desde 1985, a cobertura de água e os campos alagados têm diminuído, enquanto o solo permanece seco por períodos mais longos, agravando o risco de incêndios.
Entre 2019 e 2023, o bioma registrou a destruição de 5,8 milhões de hectares devido a queimadas, muitas delas em áreas tradicionalmente úmidas, que secaram com a redução das cheias. Eduardo Rosa, coordenador do mapeamento da região, explica que, embora o Pantanal já tenha passado por ciclos de seca, o avanço da atividade agropecuária e a conversão de áreas naturais em pastagem vêm afetando significativamente a retenção de água na bacia hidrográfica.
Dados Alarmantes e Mudanças na Paisagem
Em 2023, o Pantanal registrou uma baixa histórica de alagamento, com apenas 3,3 milhões de hectares cobertos por água — uma queda de 38% em relação a 2018 e de 61% em comparação à média histórica de 1988. Essa redução expressiva no volume de água altera o habitat e expande a área de savanas e outros tipos de vegetação adaptada à seca, comprometendo ainda mais o ciclo natural de alagamento.
Além disso, a região vem sofrendo um aumento expressivo nas áreas de pastagens exóticas, que passaram de 700 mil hectares para 2,4 milhões nos últimos 38 anos. Com isso, foram eliminados 1,8 milhão de hectares de vegetação nativa, incluindo campinas e floresta, para dar lugar à pastagem. Apesar de as pastagens exóticas terem menor incidência de fogo devido à baixa biomassa seca, o uso de queimadas para abrir espaço para essas áreas é uma prática frequente, principalmente nas margens do Rio Paraguai.
Consequências e Perspectivas para o Bioma
Essas alterações tornam o Pantanal cada vez mais vulnerável a incêndios, pois áreas antes alagadas se tornaram suscetíveis a secas prolongadas, intensificando os incêndios na região. Desde o final dos anos 1980, a maior incidência de queimadas havia sido associada à conversão de áreas naturais para agropecuária, mas o cenário de hoje aponta para um problema mais amplo e crônico, envolvendo alterações profundas no ciclo de cheias e secas do Pantanal.
O estudo destaca a necessidade de uma gestão mais cuidadosa do uso da terra e dos recursos hídricos para preservar o equilíbrio ambiental do Pantanal, que já sente o impacto dessas mudanças na sua dinâmica hídrica e ecológica.