A Coreia do Norte confirmou nesta quinta-feira (17) que a Constituição do país foi recentemente reescrita para apontar, pela primeira vez, que a Coreia do Sul é “um Estado hostil”.
Para demonstrar essa alteração, ordenada pelo líder Kim Jong-un, o país vem destruindo trechos de estradas e vias férreas fronteiriças para cortar gradualmente as ligações com a vizinha Coreia do Sul, considerando a passagem de fronteiras como legítima.
São pelo menos 66 metros de estrada e de linhas ferroviárias no lado norte da fronteira que agora estão completamente bloqueados. Os militares norte-coreanos cortaram trechos dessas vias de comunicação entre os dois países para cumprir a alteração da Constituição: “ação legítima contra um Estado hostil”.
Estes bloqueios fazem parte das medidas implantadas por Pyongyang contra Seul e pretendem garantir uma “separação completa e gradual do território do Norte” em relação ao Sul.
“Esta é uma medida decidida e tomada legítima em conformidade com a exigência da Constituição da RPDC, que define claramente a República da Coreia como um Estado hostil”, informou nesta quinta-feira a agência de notícias estatal da Coreia do Norte, KCNA usando o nome oficial do Norte, República Popular Democrática da Coreia, e o da Coreia do Sul, República da Coreia.
E acrescenta que a decisão “se deve às graves situações de segurança que conduzem à beira da guerra devido a provocações políticas e militares por parte de forças hostis”.
A KCNA citou uma porta-voz do Ministério da Defesa, mencionando que o país tomará novas medidas para “fortalecer permanentemente a fronteira sul fechada”, porém não informou nenhuma outra alteração na constituição definida pelo líder do regime Kim Jong-un.
De acordo com a Reuters, uma imagem de satélite divulgada pela empresa de imagens BlackSky e tirada na quarta-feira mostra a estrada que leva à cidade de Kaesong, no Norte, “rasgada com um grande corte no pavimento e na área ao redor”.
Inimigo principal
A Coreia do Sul já reagiu e “condena veementemente” a alteração constitucional e a “caracterização de Estado hostil”, acrescentando que o caminho traçado pelo Norte é “um ato anti-unificação e anti-nacional”.
O Ministério da Unificação, pasta que trata das relações com a Coreia do Norte, afirma que não vacilará em continuar uma política que constrói linhas de sustentação “em direção à reunificação pacífica, baseada no princípio básico de liberdade e democracia”.
Em janeiro, Kim Jong-un propôs uma emenda constitucional para retirar a unificação como objetivo de traçar laços com o Sul, argumentando que Seul conspirava com Washington a favor do colapso do regime comunista da Coreia do Norte. Kim acusou ainda os aliados de tramarem contra a definição clara do território do Norte.
A Suprema Assembleia Popular da Coreia do Norte reuniu-se durante dois dias na semana passada, para preparar a alteração da Constituição para designar oficialmente a Coreia do Sul como um país separado e identificá-lo como principal inimigo.
Na terça-feira (15), os militares do Sul dispararam tiros de advertência perto da fronteira, em resposta às detonações do Norte nos trechos de estradas e linhas férreas.
Pyongyang deixou claro que cortará completamente as áreas de passagem entre as Coreias e fortalecerá ainda mais as áreas do lado Norte da fronteira para confirmar o objetivo de um sistema de “dois Estados”, descartando os antigos planos de unificação.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul também sublinhou que o governo sul-coreano responderá severamente a quaisquer provocações da Coreia do Norte.
Entretanto, nos últimos meses, a Coreia do Norte removeu os monumentos que simbolizavam a reaproximação com a Coreia do Sul e aboliu agências estatais que lidavam com as relações intercoreanas.
As estradas agora parcialmente destruídas foram construídas majoritariamente com dinheiro sul-coreano. As ligações rodoviárias e ferroviárias já foram um símbolo dos movimentos de reconciliação entre os dois países.
Alerta
“A Coreia do Norte ficou tão atrás do Sul que qualquer intercâmbio social ou integração financeira pode parecer um caminho para a unificação por aquisição”, observa Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais na Ewha Womans University, em Seul, citado na agência Associated Imprensa.
“A exclusão de Pyongyang à unificação da importação das Coreias é, portanto, uma estratégia para a sobrevivência do regime e manutenção do controle doméstico. Isso não é apenas um mau presságio para a diplomacia, como também pode tornar-se uma ideologia para motivar uma agressão militar contra Seul”, alerta Easley.