Dias após ser resgatado, o filhote de tamanduá encontrado em Jardim já não precisa mais se colocar em posição de ataque para lidar com a ausência materna e as dificuldades fora de seu habitat natural. Levado ao Raras (Recinto de Amparo e Reabilitação de Animais Silvestres) em Bonito, o bichinho de pouca idade mostra sua força ao se recuperar de uma desidratação intensa e reagir à adaptação no local.
Com tempo de vida entre quatro e cinco meses, o tamanduá tem recebido tratamento exclusivo com uma receita produzida especialmente para ele composta por creme de leite, gema de ovo, vitaminas e cupim. Isso ocorre para que se familiarize com um dos principais alimentos consumidos pela espécie.
Até o momento, o filhote tem lutado para se adaptar sem a mãe e, por isso, é comum que se alimente com certa dificuldade, já apresentando melhoras. O mesmo ocorreu com outro tamanduá de idade semelhante que chegou no local há aproximadamente 15 dias e hoje já tem seu próprio cupinzeiro.
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Além do ninho de cupins, tanto o veterano quanto o novato também têm ao seu dispor almofadas e bichinhos de pelúcia. De acordo com Marcelo Matias, médico veterinário do Raras e responsável pelos dois animais, a presença dos objetos é importante para que eles possam agarrá-los, assim como fazem com a mãe.
“Na natureza eles estão sempre agarrados ao corpo da mãe, é meio instintivo dele ficar sempre ali, abraçado. Então a gente sempre coloca ali alguns travesseirinhos, uns bichinhos de pé, alguma coisa assim para eles poderem estar sempre abraçadinhos, para ficarem mais confortáveis e seguros”, explica.
Por terem sido resgatados ainda filhotes, Marcelo informa que os tamanduás deverão passar por um santuário antes de, possivelmente, voltarem ao seu habitat natural no futuro. Essa fase é necessária para que os animais se adaptem em um período de reabilitação, com alimento, água e monitoramento adequados, antes de encararem a vida selvagem.
“Eles não têm a mãe para ensinar uma série de coisas que precisam saber, como achar água na natureza, onde se esconder, onde dormir para não ser predado. Esse tipo de coisa é a mãe que ensina eles”.
Apesar da falta de experiência dos filhotes, o instinto de sobrevivência fala mais alto quando, para se defender, eles adotam a postura de tripé e equilibram-se nas patas traseiras e na cauda. Foi nesta posição que Daniele Gutterres, investigadora da 1° Delegacia de Polícia de Jardim, encontrou o pequeno tamanduá no último domingo (1), em frente ao local de trabalho.
Em seu dia de folga, Daniele foi até a delegacia para alimentar uma cachorra resgatada, quando se deparou com o animal e chamou o plantonista para auxiliar no resgate. “O filhote ainda não comia. Por ser muito novinho, estava muito assustado e ficou em posição de ataque. Foi tranquilo pegar o bichinho e deixar com a PMA de Jardim“, destaca.
A PMA (Polícia Militar Ambiental) de Jardim recebeu o filhote e o encaminhou para o Raras em Bonito, onde está atualmente.
Resgate de animais silvestres
Além dos tamanduás, a PMA atua resgatando todas as espécies de animais silvestres, incluindo répteis e aves. Segundo dados de contenção e captura de Mato Grosso do Sul, em 2024 foram registradas 3 vítimas de atropelamento em via urbana, 16 em BR ou via rural e zero vítimas de fogo e acidentes com linha ou cerol. Dos envolvidos nas ocorrências, 24 são mamíferos, 33 são répteis e quelônios e 61 são aves.
De acordo com a 1° tenente Eveny Parrella, assessora de comunicação do 1° BPMA, a maioria dos casos registrados com aves são relativos a acidentes em áreas urbanas, como colisão e queda de filhotes que estão aprendendo a alçar os primeiros voos. Já em períodos chuvosos, as ocorrências com répteis costumam aumentar devido à saída de serpentes para procurar alimentos.
Ao todo, 66 animais já foram contidos e capturados, 36 precisaram apenas de transporte para a unidade ou para a devolução no habitat e outros 35 foram entregues voluntariamente na OPM este ano. A tenente destaca que o contato com a PMA é a medida mais adequada a se tomar caso alguém se depare com um animal silvestre ferido ou fora de seu habitat natural.
“É importante que a população não tente pegar o animal, serpente, tamanduá-bandeira, mirim, porque o animal às vezes no instinto de se defender, ele vai atacar, pode morder ou arranhar a pessoa. O ideal é sempre entrar em contato conosco e pedir essa orientação tanto para animais de pequeno porte quanto animais maiores e o resgate”.
A atuação do órgão é constante e abrange todo o Estado. Para obter mais informações sobre contenção e captura de animais silvestres, a PMA realiza atendimento ao público em Campo Grande por meio do telefone (67) 3357-1500 ou do WhatsApp: (67) 9984-5013, contato exclusivo para mensagens. Pelo aplicativo também é possível receber instruções do profissional de plantão encaminhando fotos do animal encontrado.