No Pantanal de Miranda, uma cena incomum chamou a atenção no fim de semana: duas onças-pintadas e uma jaguatirica foram vistas dividindo a sombra de uma manilha. O momento, compartilhado pelo projeto Onçafari nesta segunda-feira (19), ocorreu na Estância Caiman, região que teve 80% de sua área consumida por incêndios florestais.
Os felinos, identificados como Divino e Timburé, são monitorados pelo projeto tendo sido encontrados juntos na mesma estrutura, usada para abrigar-se do calor e buscar proteção. Em seguida, uma das onças se moveu para uma manilha adjacente, onde já estava uma jaguatirica. Apesar de uma rápida demonstração de tensão, logo os animais se acalmaram, em um comportamento que sugeriu uma trégua entre predador e presa. O biólogo Gustavo Figueirôa, do Instituto SOS Pantanal, destacou que esse tipo de comportamento é raro e geralmente ocorre em situações de extremo estresse, como os incêndios que assolam a região.
Figueirôa explicou que, durante os incêndios de 2020, comportamentos semelhantes foram observados em outras espécies, como cachorros-do-mato e lontras, que se aproximavam de corpos d’água para sobreviver, mas sem conflitos. Essa adaptação emergencial revela a gravidade da situação e o impacto devastador dos incêndios na fauna local.
Apesar das chuvas recentes no Pantanal, o período mais crítico de seca ainda está por vir, entre setembro e outubro, aumentando as preocupações de que a temporada de incêndios de 2024 possa ser ainda mais devastadora que a de 2020, quando mais de 17 milhões de animais morreram.
As consequências das queimadas são severas e continuam a fazer vítimas. No dia 10 de agosto, o Onçafari confirmou a morte da onça-pintada Gaia, que habitava a Estância Caiman. Gaia, nascida em 2013 é filha de outra onça monitorada, Esperança, deixou um legado importante com a geração de quatro filhotes. Sua perda foi lamentada nas redes sociais do projeto, que destacou seu papel crucial na preservação da espécie.
A imagem dos felinos buscando refúgio em meio ao desastre natural ilustra a resiliência dos animais do Pantanal, mas também a urgência de medidas para proteger esse ecossistema, que segue ameaçado pelo fogo.