Flagrado pela PF em compra de votos é promovido pelo prefeito de Corumbá

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Celular, dinheiro e lista com nomes foi encontrado pela PF junto com Marconi durante campanha eleitoral em 2020 / Foto: Arquivo / Divulgação PF
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  • Post publicado:4 de julho de 2023

Corumbá (MS)- Apontado pela Polícia Federal como um dos principais articuladores em um esquema de compra de votos instalado dentro da prefeitura de Corumbá durante a gestão do atual prefeito Marcelo Iunes, e que teria funcionado para eleição majoritária e de vereadores aliados ao chefe do executivo corumbaense nas eleições de 2020, foi promovido ao primeiro escalão do governo municipal nesta terça-feira, 04 de julho.

O ato de nomeação de Marconi Souza Junior, também conhecido como (Macaco), foi assinada pelo Prefeito Marcelo Iunes e publicada na edição do Diário Oficial do Município.

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Marconi já foi alvo de investigação da Polícia Federal que encontrou em seu aparelho celular, as provas que mostraram todo funcionamento do esquema de compra de votos, que operou juntamente com outros servidores comissionados de Iunes, vereadores e candidatos aliados ao prefeito nas eleições de 2020.

Entre as ações do grupo, a Polícia Federal destacou o fornecimento de Cestas Básicas, materiais de construção, dinheiro, e principalmente o favorecimento de pacientes ao acesso a exames clínicos utilizando o gerenciamento do SUS e até o laboratório da família do prefeito em troca de votos.

Foi de Marconi, segundo investigação da Polícia Federal, que partiu por exemplo, a compra de seis votos de uma família, no Conjunto Padre Ernesto Sassida, em troca de dois marmitex.

O atual diretor-presidente da Agência Portuária de Corumbá, chegou a zombar do valor de cada voto ao interlocutor identificado como “Estácio” também servidor comissionado.  

“Eu arrumei até uns eleitor para o Alex Dellas aqui, por dois marmitex, barato hein, são seis pessoas lá, te dei de graça hein, ai você passa e deixa lá, cortesia Alex Dellas”, disse em áudio. Confira abaixo

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Vereador Alex Dellas

Marconi também era responsável pela interlocução, segundo as investigações da Polícia Federal e conforme áudios apreendidos em seu celular, entre eleitores que moravam em uma fazenda e o vereador Yussef El Sala, onde foi negociado o valor de R$ 50 reais por cada voto.

No áudio, Marconi diz ao vereador que teria negociado aproximadamente 26 votos com a mulher, e que cada um custaria “cinquentão por cabeça”. Ouça os áudios abaixo

Ao vereador Yussef, ele também teria solicitado a quantia de R$ 200 reais para compra de cinco cestas básicas que estaria montando para atender a uma demanda repassada pelo “chefe maior”. Na conversa mantida pelo aplicativo WhatsApp, Marconi chegou a enviar fotos dos produtos comprados por ele para montagem das cestas que seriam fornecidas aos eleitores cooptados pelo esquema. Ouça o áudio abaixo

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Marconi envia fotos das cestas básicas que montou com o valor recebido

Exames Médicos

Outro vereador atendido pelo esquema e intermediado por Marconi, foi Manoel Rodrigues o (Manuelzinho da Saúde), que aparece em áudios negociando o atendimento privilegiado de seus eleitores com acesso a exames que seriam custeados pelo SUS.

No áudio, o vereador deixa claro que o pedido seria para atendimento do que chamou de “pessoal nosso”.

Marconi ainda era responsável por mediar a realização de exames clínicos de eleitores no laboratório da família de Iunes, o mesmo que teve contrato suspenso pela justiça por receber mais quase um milhão de reais em contratos com a prefeitura sem licitação.

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Vereador Manuel Rodrigues

Em casos onde os exames não eram custeados pelo SUS, Marconi repassava os orçamentos ao vereador dizendo que a cobrança seria “a preço de custo”.

A atual sub-secretária de Saúde Mariluce Leão, também aparece nos áudios intermediando os atendimentos e explicando a Marconi como deviam proceder para serem atendidos pela organização, que segundo ela, teria sido combinado com “Marcelo (Iunes)”.

Quando não conseguia junto aos vereadores recursos para efetivar a compra de votos, Marconi recorria ao atual Secretário de Governo de Iunes, Luiz Antônio (Pardal). Pretenso a sucessão municipal com apoio do Prefeito, o secretário demonstrava na época, seu receio com as conversas mantidas pelo aplicativo e orientava Marconi a apaga-las, conforme áudio abaixo.

Essa foi a determinação dada por ele logo após informar o envio da R$ 1.000,00 reais que deveria ser entregue a uma pessoa que iria procura-lo na Prefeitura.

Fala para ele apagar essa conversa também do celular dele por favor” disse.

Pardal também aparece nas conversas mediando o atendimento de eleitores no laboratório da família do prefeito e ordena que Marconi carimbe o documento autorizando o procedimento.

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Secretário de Governo Luiz Antônio (Pardal)

Dias depois, Luiz Antônio solicita que Marconi desapareça com o carimbo. “Some com aquele carimbo da Citolab lá de você amanhã tá?”, comprovando sua preocupação com uma possível descoberta dos atos do grupo.

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A Casita vai cair

Demonstrando total conhecimento dos procedimentos ilegais que praticava junto com o grupo do Prefeito Marcelo Iunes, Marconi foi flagrado em conversa com o servidor identificado como Estácio (Batata), em um prenúncio do que meses depois viria ocorrer.

Em resposta ao envio de uma imagem da tela do computador de Estácio com todo organograma do esquema, Marconi diz: Se a Federal bater aí e pega esse computar aí, também cai a casita né?!”

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Lista de compra de votos

Ao ser abordado pela Polícia Federal na época, documentos obtidos pela reportagem do Folha MS, mostram que Marconi foi flagrado em posse de maços de dinheiro e uma lista com nomes e o referido valor que supostamente deveriam ser repassados a cada um.

O flagrante destaca que o montante estaria reservado em pequenos maços de R$ 250 reais e que cada um deles, estava envolto em uma folha de papel onde constavam uma lista de nomes e bairros.

Ainda segundo o auto de flagrante, o referido servidor que exerce cargo comissionado na atual administração, teria tentado se desfazer de seu aparelho telefônico enquanto era conduzido para prestar esclarecimentos na sede da Polícia Federal, mas o mesmo acabou sendo retido pelos agentes.

Em depoimento, o servidor alegou que o dinheiro seria de sua propriedade e reservado afim de que fizesse uma reforma em sua casa, no entanto, ao ser indagado qual seria o valor que portava, não soube informar com precisão. Sobre o motivo de estar separado em maços e vinculados a uma lista de nomes, o suspeito indicou que esta seria a forma como costumava guardar o dinheiro e que os nomes seriam de supostas pessoas que queriam trabalhar na campanha como cabo eleitorais.

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Maços de dinheiro e lista de nomes foram encontrados com Marconi no período eleitoral

Trabalho voluntário

Em depoimento, Marconi também afirmou que atuava na campanha à reeleição do prefeito, de forma voluntária, ou seja, sem receber remuneração, embora exercesse também à época, função comissionada na prefeitura Municipal.

No entanto, de acordo com levantamento realizado pela reportagem, ao invés de prestar o devido trabalho funcional para qual fora contratado, foi flagrado em atendimento de trabalho pessoal para campanha do então chefe do executivo municipal, atividade que se perdurou durante todo período eleitoral.

Menos de três anos depois, o “trabalho voluntário” rendeu ao servidor comissionado a promoção para o primeiro escalão do Prefeito Marcelo Iunes, cargo assumido por pessoas de extrema confiança.

A promoção no entanto, não deve lhe render aumento salarial, já que, apesar de ser nomeado como “Assessor Especial”, Marconi já recebe por seus “serviços” um salário no mesmo nível de diretor-presidente de R$ 12 mil reais segundo informações do Portal da Transparência.

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Apesar do inquérito da Polícia Federal estar concluído e apontar com riqueza de provas a efetiva compra de votos em favor do Prefeito Municipal e vereadores, o processo não avançou na Justiça Eleitoral e aguarda ser colocado em pauta para decisão.

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