Campo Grande (MS)- Em frente ao prédio do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), em Campo Grande, uma cena chamou a atenção de quem passava pela rua na manhã desta segunda-feira (15). Nove animais silvestres, como tatu, tamanduá-bandeira, quati e lobo-guará, estavam estendidos sobre lonas, com sinais de atropelamento e decomposição.
A iniciativa foi um protesto de um grupo de ambientalistas e moradores da região, que denunciam a falta de medidas para evitar a morte de fauna nas estradas e rodovias de Mato Grosso do Sul. Segundo eles, a BR-262, que corta o Pantanal sul-mato-grossense, é a mais crítica, pois registra um alto índice de atropelamentos de animais que vivem no bioma.
O grupo afirma que o próprio Dnit tem um plano para instalar passagens subterrâneas e cercas ao longo da rodovia, mas que até agora nada foi feito. Eles cobram urgência na execução do projeto, que poderia salvar a vida de milhares de animais e também garantir a segurança dos motoristas que trafegam pela BR-262.
O Dnit não se manifestou sobre o protesto até o momento. A BR-262 é uma das principais vias de acesso ao Pantanal, um dos maiores patrimônios naturais do Brasil e do mundo.
“Isso precisa parar. O Dnit já tem um plano de mitigação pronto, só precisa de vontade política para fazer o negócio acontecer. Um estudo mostra quais são os pontos da estrada onde tem mais vulnerabilidade para acontecer atropelamentos, indicando quais pontos devem ser cercados, onde podem ser construídas novas passagens de fauna e onde a sinalização pode melhorar”, detalhou o biólogo Gustavo Figueiroa, da organização SOS Pantanal, que é uma das organizadoras do ato.
Gustavo ressalta que não só a biodiversidade é impactada com os atropelamentos, e que há prejuízo quanto a vidas humanas e à economia estadual.
“É um problema de todo mundo. “A gente está falando não só de estradas seguras para animais, mas também para pessoas que as utilizam. Os dois lados saem perdendo. São centenas de vidas humanas perdidas todos os anos, milhares de vidas de animais e milhões de reais em prejuízo”, pontua.
Como parte do ato, os manifestantes vão entregar uma carta assinada por 250 pessoas, pedindo agilidade na implementação do plano de Dnit.
6,5 mil animais – Somente em Mato Grosso do Sul, o saldo de animais silvestres atropelados nas rodovias e estradas, entre 2017 e 2020, foi de aproximadamente 6,5 mil. Desses, 363 eram espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, a onça-parda, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e a anta.
Os dados são do Icas (Instituto de Conservação de animais silvestres). Cerca de 90% dos atropelamentos não são propositais. A velocidade alta dos motoristas e a não implementação de ações de proteção, como o cercamento, estão entre as principais causas.
A bióloga Daniella França, participante do protesto, reforça que o grupo confia na implementação do plano do Dnit como parte da solução para esse problema e o aguarda a mais de um ano.
“Temos milhares de animais morrendo todos os anos e a gente já tem como evitar isso, porque tem o plano de mitigação. É só implementar”, completa.