Aparecimento misterioso de sacos de cocaína em praias da França provoca fenômeno de ‘narcoturismo’

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  • Post publicado:10 de março de 2023
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Em pleno inverno, pequenas cidades no litoral norte da França percebem um novo fluxo de visitantes em suas praias. São em sua maioria homens, e passam o dia a dar voltas pelo litoral, alguns com binóculos nas mãos. Eles procuram pacotes de cocaína trazidos pelo mar. O fenômeno começou há duas semanas, após sacos da droga terem sido encontrados nas praias. Polícia investiga origem.

No dia 26 de fevereiro, um homem que fazia caminhada na praia de Dranguet, em Réville, pequena cidade do nordeste francês, encontrou grandes pacotes cobertos por lona encalhados na areia. O material parecia ter sido trazido pelas ondas. Em volta dos pacotes, diversos coletes salva-vidas.

Achando estranha a descoberta, o homem decide avisar a polícia. E assim começa o caso da “maré de cocaína” na França.

Dentro dos pacotes hermeticamente fechados, a polícia encontra 800 kg de cocaína. A quantidade era tanta que foi necessário usar um trator para retirá-los da praia, afirmou um investigador ao jornal Ouest-France.

Nos dias seguintes, novos pacotes continuaram a ser encontrados ao longo da costa. Em uma semana, a polícia havia recuperado duas toneladas da droga.

Desde então, as cidades da costa norte passaram a perceber uma circulação de visitantes inabituais. Homens jovens, às vezes em grupos, alguns encapuzados, indo às praias durante o dia e também à noite.

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Seis sacos de cocaína são encontrados pela guarda civil na cidade de Vicq-sur-Mer, na Normandia, em 1° de março. — Foto: AFP – LOU BENOIST

Em busca do pote de ouro

Os novos visitantes foram vistos em diferentes cidades. De acordo com moradores, eles passam lentamente de carro ou de motocicleta, ao longo da costa. Alguns ficam horas caminhando nas praias. Os grupos vêm de diversas partes da França, da região de Paris, de Bordeaux (sudoeste) e Grenoble, segundo a imprensa local. A esperança é encontrar ao menos um dos pacotes de cocaína perdidos.

“É ganhar na loteria. Você encontra apenas um desses e fica milionário”, diz um jovem de cerca de 20 anos em entrevista, sem mostrar o rosto, a uma televisão francesa.

Um quilo de cocaína pode ser vendido a preços que variam entre US$ 70 mil (R$ 360 mil) e US$ 180 mil (R$ 930 mil) no mercado europeu.

A movimentação tem sido chamada de narcoturismo, com alertas aos interessados sobre os crimes cometidos. Segundo o promotor público em Rennes, Philippe Astruc, quem encontra um pacote desses na praia e guarda para si corre o risco de ser condenado a dez anos de prisão e até sete milhões em multas.

Além disso, as autoridades temem um problema de saúde pública, já que a cocaína encontrada é muito mais pura do que a droga que é comumente encontrada no mercado e pode levar os usuários desavisados à morte.

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A droga encontrada nas praias da Normandia, em março de 2023, estava presa a coletes salva-vidas de fabricação brasileira, como mostrou a televisão francesa TF1. No colete, é possível ler que ele foi homologado pela Marinha do Brasil. — Foto: Reprodução

De onde veio a cocaína

A polícia francesa investiga a origem da droga. Diversos pacotes encontrados estavam presos a coletes salva-vidas de fabricação brasileira.

Pelo fato de boa parte dos pacotes estarem unidos uns aos outros, especula-se uma tentativa de envio a um ponto específico da costa para recepção por grupos de traficantes locais.

A primeira parte da carga encontrada era formada por quarenta pacotes, contendo no total 800 quilos da droga.

Um pescador da região contou ao jornal Ouest-France que o mar ali é conhecido por ter correntes fortes, e que mudam de sentido. Talvez tenham vindo em um barco “que chegou perto da costa à noite, mas não conseguiu desembarcar por causa da maré, e foi forçado a jogar os pacotes no mar”, imagina outro pescador.

O Canal da Mancha faz parte de uma importante rota de entrada da droga vinda da América do Sul para os portos da Europa. Só no porto do Havre, em 2022, a polícia apreendeu mais de 20 toneladas de cocaína. Na Bélgica, país vizinho, mais de 110 toneladas foram interceptadas no ano passado.

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