O grito da Independência, que remonta ao dia 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, em São Paulo, só chegou à província de Matto Grosso (como escrito antigamente), que engloba o território onde 200 anos depois é Mato Grosso do Sul, em janeiro de 1823. O motivo era a longa jornada da viagem entre as províncias, com duração média de quatro meses.
“As notícias sobre a proclamação da Independência do Brasil e a aclamação do Príncipe Regente Dom Pedro, como Imperador do Brasil, só chegaram em Cuiabá, na Província de Matto Grosso, na primeira semana, muito provavelmente no domingo (dia 5), de janeiro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1823. No dia 6 de janeiro, segunda-feira, cantou-se um ‘Te Deum’ na Catedral, pelo acontecimento”, registra Wellington Corlet dos Santos, associado correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e que integra agremiações como a Associação Nacional dos Veteranos da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.
O pesquisador é autor de estudo sobre o Matto Grosso, grafado à época com dois “t”, no período da Independência. O trabalho foi elaborado com base nos registros e memórias do sargento-mor Luis d’Alincourt, Raul Silveira de Mello e da Gazeta do Rio.
Em entrevista ao Campo Grande News, Wellington detalha que naquela época, o principal acesso entre o antigo Matto Grosso e São Paulo era o “Caminho de Goiás”, também conhecido como “Estrada dos Goiases”.
“Existiam outros caminhos que já vinham sendo usados desde os tempos coloniais, mas devido aos riscos, dificuldades e duração da viagem, foram perdendo importância, tais como os caminhos das monções e os rios da Bacia do Prata”, afirma.
O “Caminho de Goiás” ligava Villa Bella da Santíssima Trindade até Cuiabá, e de lá, até Vila Boa de Goiás (atual cidade de Goiás – GO), Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte Goiás (atual cidade de Pirenópolis), Vila Franca Del Rey (atual cidade de Franca – SP), e daí por diante, já na Província de São Paulo.
Há duzentos anos, Matto Grosso era uma província gigante, que abrangia os atuais estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. A depender do autor, a população variava de 25 mil a 37 mil pessoas. A título de comparação, somente o município de Rio Brilhante tem 38 mil habitantes.
“Sobre a estimativa populacional, especificamente, sobre os anos na década de 1820, não foi possível encontrar informações contemporâneas e seguras. Entretanto, as estimativas mais próximas encontradas são do Tenente Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, de 1800, que aponta 24 mil pessoas, e o Mapa de População da Capitania de Mato Grosso em 1800, publicado na Revista do IHGB [Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro], que indica um total de 25.821 pessoas. Outros autores, para o mesmo período, indicam populações que variam de 25 mil a 37 mil habitantes”, reforça o pesquisador.
Quanto ao território que hoje corresponde a Mato Grosso do Sul, as menções eram sobre existência de determinados pontos, como o Registro de Camapuã ou Varadouro de Camapuã (atual cidade de Camapuã), o Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, Forte de Coimbra, Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque – Velho (atual Ladário ), Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque – Novo (atual Corumbá) e Presídio de Miranda ou Presídio de Nossa Senhora do Carmo do Rio Mondego (atual Miranda).
No início do século XIX, dentre os principais produtos do então Matto Grosso que poderiam ser atribuídos ao atual Mato Grosso do Sul estavam a erva-mate e os bois. A maioria da população era de índios e escravos.
“As poucas vilas e povoados existentes ficavam bem distantes uns dos outros, ligados por estradas de terra ou rios. A atual cidade de Campo Grande, capital do atual estado do Mato Grosso do Sul, ainda estava bem longe de surgir”.
A nossa Capital era apenas uma região a ser desbravada entre o Rio Pardo ( Varadouro de Camapuã) e o Rio Miranda (Presídio de Miranda).