Estudo aponta redução de 60% no ciclo das cheias no Pantanal nos últimos 30 anos

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O reino das águas não está mais conseguindo se manter com a abundância registrada 30 anos atrás. 

Um mapeamento conseguiu medir o comportamento dos grandes picos de cheia no Pantanal ao longo de três décadas e identificou que os rios que antes transbordavam e mantinham áreas inundadas por seis meses agora não ultrapassam dois meses de cheia.  

Este cenário foi identificado depois que o Mapbiomas averiguou dados de 1988, quando esse acompanhamento começou a ser realizado e houve um pico de cheia, e comparou os números com 2018, último ano em que houve grande elevação de água no bioma.

A constatação faz parte de divulgação que a rede colaborativa promoveu nesta sexta-feira (26), em Brasília. O estudo também identifica como está a condição da cobertura vegetal no Brasil.  

O mapa anual de cobertura e uso da terra no País está sendo elaborado a partir de imagens de satélite. Esse material passou a ser incorporado à base de informações do Mapbiomas a partir do ano passado.

O propósito de catalogar essas realidades envolve uma proposta de debater com o setor produtivo medidas a serem implantadas para conservação e promover o desenvolvimento mais sustentável no Brasil.  

“As alterações causadas pela ação do homem entre 1985 e 2021 foram muito intensas, elas correspondem a um terço [33%] de toda a área antropizada do País. Nesse período, o Brasil passou de 76% de cobertura da terra de vegetação nativa [florestas, savanas e outras formações não florestais] para 66%. Por outro lado, a área ocupada por agropecuária cresceu de 21% para 31% do País, com destaque para o crescimento de 228% das áreas de agricultura e que agora representam 7,4% do território nacional”, ponderou a rede em nota.

Como o Pantanal é um bioma que sofre influências de outros, principalmente do Cerrado e da Amazônia, as ações que ocorrem nessas regiões vão gerar algum reflexo, sobretudo em termos de abastecimento de água.  

Os formados do Pantanal são principalmente os rios Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Aquidauana, Miranda, Apa e Paraguai, que tem o maior porte.  

“A tendência constatada foi a redução da superfície de água. Nos últimos 30 anos [de 1991 a 2021], houve uma perda de 17,1%. O fenômeno ocorre especialmente no Pantanal, que é fortemente influenciado, por exemplo, pela variação da umidade gerada na evapotranspiração das árvores da Amazônia”, detalhou o Mapbiomas.

ESTUDO

A pesquisa procurou identificar como as cheias no bioma estão se comportando. Esse ciclo influencia não só o meio ambiente, com migração de animais, por exemplo, mas também as atividades econômicas.  

No caso da pecuária, que está sendo praticada há mais de 200 anos no Pantanal, as áreas de pastagens podem ser ampliadas, porém, as gramíneas pantaneiras, que dependem do ciclo de cheia e vazante, sofrem impactos. A navegação é outra questão que se leva em consideração.

O primeiro detalhamento do estudo relacionado a pico de cheias refere-se a 1988. Naquele ano, as áreas alagadas duraram o período de seis meses, promovendo um determinado grau para renovação de vegetação.  

Já o último pico de cheia registrado na pesquisa ocorreu em 2018, dois anos antes da ocorrência de grandes incêndios florestais. Naquele ano, foram só dois meses em que as planícies ficaram alagadas. Um menor tempo de submersão resultou em muita matéria para servir de combustão, o que favorece o ciclo do fogo e os incêndios florestais.

Em concomitância com essa redução de tempo de cheia, o Pantanal viu também sua superfície de água e campos alagados serem reduzidos ano a ano. Dessa forma, no mesmo período de picos de cheia (1988-2018), houve outra questão ambiental, que foi a perda de 29% das áreas alagadas.

Essas identificações foram repassadas por equipe de pesquisadores do Mapbiomas dedicada a investigar o cenário ambiental do Pantanal e da Mata Atlântica.  

Nesse grupo estão os pesquisadores Eduardo Reis Rosa, Fernando Frizieira Paternost, Jaqueline Freitas, Marcos Rosa (coordenador), Viviane Mazin, Natalia Crusco, Luis Fernando Guedes (também coordenador) e Mariana Dias.

As explicações até hoje apontadas para a ocorrência desses registros envolvem um grupo de fatores que se intercalam e causam reflexo a médio e longo prazo na paisagem.  

A degradação no entorno do Pantanal, neste caso, o Cerrado e a Amazônia, na borda sul, está resultando em menos volume de água para abastecer os canais que de alguma forma chegarão ao território pantaneiro. A Amazônia Legal, por exemplo, sofreu uma perda de florestas, e essa condição aumentou fortemente na última década, representando 22% da perda de cobertura florestal na Amazônia, contra 11% no período de 2000-2010.

As mudanças climáticas mundiais causam um outro reflexo, neste caso, secas mais extremas. Esse período está em vigência e começou em 2019, sendo mais intenso a partir de 2020.  

O volume de chuvas reduzido está ligado ao efeito La Niña, que causa temperaturas da superfície do mar abaixo da média no Pacífico equatorial, anomalias térmicas na maior parte do Oceano Pacífico central e oriental e anomalias nos ventos de leste em níveis baixos e nos ventos de oeste nos níveis superiores da atmosfera.  

A força desse efeito estará mais fraca somente a partir da primavera deste ano, o que explica o registro de algumas chuvas no Pantanal neste mês de agosto.

De acordo com o Mapbiomas, a partir dessas constatações, organizações governamentais devem direcionar políticas para atuar na mitigação do problema, e o mesmo precisa envolver a iniciativa privada. (Colaborou Rodolfo César)

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