Brasil tem deflação de 0,68% em julho, mas preço da comida sobe

No momento, você está visualizando Brasil tem deflação de 0,68% em julho, mas preço da comida sobe
Supermercado
  • Autor do post:
  • Post publicado:9 de agosto de 2022
FacebookWhatsAppTelegramCopy LinkMessengerPrintFriendlyShare

Com o impacto da redução de combustíveis e energia elétrica, o Brasil teve deflação (queda de preços) de 0,68% em julho, informou nesta terça-feira (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É a menor taxa já registrada pelo índice oficial de inflação do país, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). A série histórica começou em janeiro de 1980.

A queda, contudo, foi puxada por apenas dois grupos (transportes e habitação) entre os nove pesquisados pelo IBGE. O segmento de alimentação e bebidas, por outro lado, ainda dá sinais de carestia e voltou a acelerar, o que pressiona sobretudo o bolso dos mais pobres.

Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam uma queda menos intensa em julho, de 0,65%. O IPCA havia subido 0,67% em junho.

ALTA SUPERA 10% EM 12 MESES

Mesmo com a trégua mensal, o índice de inflação segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses. Até julho, a alta foi de 10,07%. Nessa base de comparação, o avanço havia sido de 11,89% até o mês anterior.

O IPCA acumulado está em dois dígitos, acima de 10%, há 11 meses. Ou seja, desde setembro do ano passado.

Uma sequência tão longa não ocorria desde o intervalo de 2002 a 2003. À época, o índice ficou em dois dígitos por 13 meses consecutivos, de novembro de 2002 a novembro de 2003.

O IPCA acima de 10% às vésperas das eleições pressiona o governo Jair Bolsonaro (PL), que teme os efeitos da perda do poder de compra dos brasileiros. Para tentar reduzir os danos, o Planalto aposta no corte de tributos, que começa a impactar parte dos preços.

IPCA no acumulado de 12 meses

Imagem do WhatsApp de 2022 08 09 as 10.18.59

COMBUSTÍVEIS E ENERGIA BAIXAM, COMIDA SOBE

A deflação de julho é a primeira desde maio de 2020. À época, a baixa havia sido de 0,38%, em um contexto de restrições a atividades econômicas com a chegada da pandemia.

De acordo com o IPCA, o resultado de julho foi influenciado principalmente pelo grupo dos transportes, que teve a queda mais intensa, de 4,51%. O segmento contribuiu com o maior impacto negativo (-1 ponto percentual).

A queda dos transportes se deve, principalmente, à redução nos preços dos combustíveis, de 14,15%. A gasolina baixou 15,48%. O etanol, por sua vez, recuou 11,38%.

A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem o IPCA (-1,04 ponto percentual).

Também foi registrada baixa nos preços do gás veicular, de 5,67%. O único combustível em alta em julho foi o óleo diesel (4,59%). O resultado ficou acima do mês anterior (3,82%).

Em junho, Bolsonaro sancionou projeto que definiu teto para a cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre produtos e serviços como combustíveis e energia. A medida começa a gerar efeitos, segundo o IBGE.

O grupo de habitação também recuou em julho. A baixa foi de 1,05%, relacionada especialmente à queda da energia elétrica residencial, de 5,78%.

“Sim, a redução do ICMS colaborou bastante”, afirmou Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, ao ser questionado em entrevista com jornalistas.

IPCA mensal

Imagem do WhatsApp de 2022 08 09 as 10.19.06

LEITE SALTA MAIS DE 25%

A comida, por outro lado, ficou mais cara. O grupo de alimentação e bebidas subiu 1,30%, a maior alta em julho. O segmento acelerou em relação a junho (0,80%), contribuindo com 0,28 ponto percentual para o IPCA.

Segundo Kislanov, a inflação da comida foi puxada por leite e derivados. A entressafra e os custos elevados pressionam o setor, indicou o pesquisador.

O leite longa vida saltou 25,46% em julho. Os preços já haviam subido 10,72% no mês anterior.

Derivados como queijo (5,28%), manteiga (5,75%) e leite condensado (6,66%) também avançaram. Outro destaque veio das frutas, com alta de 4,40%.

No lado das quedas, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%).

PROJEÇÕES PARA 2022 E 2023

Com o corte de impostos, analistas vêm reduzindo as projeções para a inflação no acumulado de 2022.

A estimativa do mercado financeiro recuou para alta de 7,11%, de acordo com a mediana do boletim Focus, divulgado na segunda-feira (8) pelo BC (Banco Central).

O efeito colateral tem sido o aumento das projeções para 2023. Segundo o Focus, a alta prevista para o próximo ano subiu para 5,36%.

De acordo com analistas, a perda de receitas com tributos traz riscos para o quadro fiscal, com possíveis impactos negativos sobre a inflação mais à frente.

Para tentar conter a carestia, o BC vem subindo os juros, o que desafia a recuperação do consumo das famílias e encarece os investimentos produtivos de empresas.

O IPCA caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC pelo segundo ano consecutivo. Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.

DISPARADA NA PANDEMIA

A inflação voltou a assustar os brasileiros devido a uma combinação de fatores ao longo da pandemia.

Houve aumentos em preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, além de carestia de alimentos e ruptura de cadeias globais de insumos da indústria.

A pressão inflacionária no Brasil foi intensificada pela desvalorização do real em meio a turbulências na área política.

No primeiro semestre de 2022, houve o impacto adicional da Guerra da Ucrânia. O conflito pressionou ainda mais o petróleo e parte das commodities agrícolas no mercado internacional. Recentemente, esses produtos deram sinais de trégua com o temor de uma recessão global.

FacebookWhatsAppTelegramCopy LinkMessengerPrintFriendlyShare