Corumbá (MS)- Profissionais médicos que pediram para terem as identidades preservadas, denunciaram à Reportagem do Folha MS, o completo descaso da administração pública municipal, com a saúde de crianças em Corumbá.
Conforme relatos de médicos e enfermeiros que atuam na cidade, não há nas escalas de plantões dentro das unidades de emergência, (Pronto-Socorro e UPA), a provisão de um profissional médico com especialidade em Pediatria.
No pronto-socorro, por exemplo, o médico especialista em pediatria que fica de plantão na Santa Casa (são duas unidades distintas), é quem, às vezes, acaba sendo chamado para realizar algum tipo de atendimento mais específico. Na unidade, uma criança morreu na última segunda-feira, à espera de atendimento médico no corredor.
“Ocorre que na escala de plantões do pronto-socorro e da UPA, não existe a especialidade médica de pediatria, as crianças que chegam nessas unidades, são, em sua quase totalidade de casos, atendidas por clínicos gerais, ou profissionais de outras especialidades”, afirmou um dos médicos ouvidos pela reportagem.
De acordo com o profissional, a situação é ainda pior na UPA do bairro Guatós. “Na Santa Casa, temos esse [quebra-galho] como chamamos a situação de quando se recorre ao profissional pediatra que está de plantão no hospital, mas se um paciente levado à UPA precisar mesmo de um atendimento pediátrico de emergência, não vai ter, o atendimento é feito pelo médico de plantão que possui outra especialidade”, pontou.
Um dos riscos mencionados pelos profissionais ouvidos é justamente o que ocorreu esta semana no pronto-socorro.
“Médico está ali para atender a todos, seja adulto, criança, idoso, mas sem dúvidas, especialidades existem porque demandam conhecimentos específicos. Quando ocorre o pior, quem irá se responsabilizar? Ai nós temos o que aconteceu, nenhum dos profissionais que estavam no momento assinaram o óbito da criança, quem assinou depois foi um pediatra que naquele momento, não estava ali, não foi o responsável pelo atendimento, se baseia em relatos do profissional médico que não possui especialidade em pediatria”, concluiu.
Conforme enfermeiros, a presença de médicos pediatras nas unidades de emergências da cidade é apenas casual que ocorrem raramente quando um deles aparece nas escalas.
“Trabalhei em Campo Grande, lá por exemplo, quando uma criança chega em busca de atendimento, ela é atendida por um pediatra, essa especialidade está em todas as unidades, não tem essa de criança ser atendida por clinico geral, inclusive a fila de espera é outra, o local onde aguardam atendimento é separado do atendimento oferecido aos adultos”, mencionou outro profissional ouvido pela reportagem.
Apesar de ser a quarta maior cidade do estado e possuir a terceira maior arrecadação de Mato Grosso do Sul, a saúde de Corumbá é considerada uma das mais deficitárias entre todas as quatro macrorregiões.
A reportagem do Folha MS procurou uma resposta sobre a denuncia recebida da falta de profissionais médicos pediatras nas unidades de atendimentos emergenciais da cidade, junto a Assessoria de Comunicação da Prefeitura, mas por três vezes não obteve resposta. O espaço continua aberto para divulgação do posicionamento que será repassado para População.
Macrorregiões:
Campo Grande
Em consulta ao site da Prefeitura de Campo Grande é possível verificar a presença distinta de médicos para atendimento adulto e de crianças nas escalas das unidades de emergência da cidade. Os plantões são publicados no site da prefeitura e fica disponível para população saber a qual unidade recorrer de acordo com a sua necessidade.
Dourados
O mesmo ocorre em Dourados, onde, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, a UPA segue com escala médica contando com quatro clínicos e dois pediatras no horário das 07hs às 01hs e entre 01hs às 07hs dois clínicos e um pediatra. Já no Hospital da Vida, onde também é fornecido o atendimento emergencial, a prefeitura mantém “dois clínicos no Pronto-Socorro, pediatra, clínico geral, cardiologista, ortopedista, médico vascular, cirurgião de cabeça e pescoço, ultrassonografista, radiologista, plantonista na UTI, anestesista, além de um neurocirurgião, todos disponíveis 24 horas”.
Três Lagoas
Em três Lagoas, desde junho deste ano, a cidade conta com um dos mais novos e modernos centros de atendimento pediátricos de urgência do estado, que funciona junto ao Hospital Regional, onde conforme informado pela administração municipal apenas crianças com mais de 30 dias de vida e com até 12 anos incompletos poderão são atendidas.
Nesse contexto, o prédio conta com a Unidade de Pronto Atendimento Pediátrico que é composta por um Pronto Socorro com capacidade de 30 leitos e uma Clínica Pediátrica com 12 leitos. Com isso, serão atendidos pacientes (pediátricos) por livre demanda (portas abertas).