Corumbá (MS)- Um bebê de apenas dois meses de idade, morreu na noite da última segunda-feira, 25 de julho, à espera de atendimento médico no corredor do pronto-socorro de Corumbá.
À reportagem do Folha MS, Evelyn Arruda, mãe da criança, denunciou negligência médica no atendimento a seu filho, Ravy Luiz de Arruda Aldama, que teria, segundo ela, agonizado até a morte enquanto aguardava pelo atendimento, apesar da urgência do caso e dos pedidos desesperados de ajuda que fez aos profissionais que se encontravam na unidade.
Conforme relatou para reportagem, por volta das 18 horas, Ravy estava na cama com o irmão, assistindo desenho, quando a mulher percebeu que a criança começou a ficar roxa. Evelyn teria então saído para rua com a criança no colo pedindo por socorro.
Vizinhos teriam encaminhado os dois até o quartel do Corpo de Bombeiros, que fica mais próximo da casa onde moram no bairro Padre Ernesto Sassida.
No local, os militares realizaram os primeiros atendimentos ao bebê procedendo com a reanimação e encaminhamento em urgência para o pronto-socorro de Corumbá.
Apesar do estado delicado em que o bebê chegou na unidade, Evelyn descreveu que o filho não teve o atendimento médico imediato, e sem uma avaliação mais precisa, foi colocado em uma maca no corredor, apenas com um cilindro de oxigênio disposto em uma máscara inapropriada por se tratar de equipamento de um adulto que não se encaixava no rosto da criança.
“Colocaram meu filho no corredor e a todo momento eu gritava para as enfermeiras que meu filho estava morrendo, que os bombeiros tinham acabado de reanimar ele e que precisava de atendimento, e simplesmente não deram a mínima importância, deixaram meu filho morrer no corredor”, disse.
Evelyn contou ainda que tentaram retirá-la do local e chegaram acionar a polícia para garantir a saída dela e dos familiares que suplicavam para que a criança fosse atendida.
“Ao invés de correrem atrás de um médico para meu filho eles foram atrás da polícia para nos tirar dali”, contou.
A mãe disse que a todo momento tentou argumentar com as enfermeiras que estavam na unidade sobre a gravidade do estado de saúde do filho, mas que foi ignorada. A resposta que recebeu foi de que já haviam solicitado uma vaga na pediatria, ignorando a situação de emergência que o caso pedia.
“Eu falava que meu filho ia morrer, as enfermeiras diziam que era normal, que ele estava chorando porque era um bebê, e só depois que elas viram que meu filho já estava morto é que correram com ele, dava tempo de salvar meu filho, dava tempo, mas não atenderam ele”, narrou.
Troca de plantão
Conforme as informações repassadas pela mãe da criança, no momento em que chegou na unidade, estaria ocorrendo a troca de plantão. Ela disse não ter reparado no nome do profissional que se encontrava no local, mas que o atendimento foi repassado para uma outra médica com sotaque estrangeiro.
“Eu pedia para ele, dizia que meu filho estava morrendo, falei para ele parar de preencher papel para passar plantão e socorrer meu filho, ele simplesmente olhou para mim e falou que sem o papel, meu filho não saia dali”.
Evelyn disse que diante da inércia da equipe de plantão os próprios familiares foi quem fizeram contato com um médico, mas que ao chegar no local a criança já estava sem vida.
“Ele ainda tentou de tudo para salvar meu filho, mas ele já estava morto”, disse.
Causa da morte
Outro ponto questionado pela família do pequeno Ravy é a causa da morte apontada no atestado de óbito, que teria sido assinado por um profissional médico que não estava no local no momento dos fatos, e que, segundo a família teria sido baseada em relatos de terceiros.
Eles contestam o fato do documento sugerir que a morte tenha ocorrido em decorrência de problemas cardiorrespiratório relacionado a uma suposta cardiopatia congênita.
“Meu marido passou a manhã toda no hospital tentando pegar o atestado de óbito, ninguém queria assinar, ninguém queria se responsabilizar pela morte do meu filho. Quando o laudo saiu alegaram que ele teve uma parada respiratória por causa de um problema cardíaco. Quando ele nasceu fizemos exames em uma clinica particular e o resultado é de que meu filho tinha o coração normal, o médico que assinou nem estava lá no momento, sequer atenderam meu filho para dizer que ele morreu por um problema que os exames já tinham confirmado que ele não tinha”, ressaltou a mãe.
Ministério Público
Familiares agora buscam por justiça e levaram o caso ao Ministério Público, pedindo que a negligência médica seja apurada.
“Meu marido e outras testemunhas já foram ouvidas, eu ainda não tive condições emocionais de ir, mas vou relatar tudo o que passei ao lado do meu filho, estou sofrendo, mas não quero que outras mães passem por este sofrimento que estou passando, por isso vamos em busca de justiça” concluiu.