A tragédia provocada pelas chuvas em Pernambuco chegou, ontem, a 127 mortos, segundo levantamento da Secretaria de Defesa Social do estado. Uma mulher continua desaparecida. Os números da devastação não param de aumentar: já são mais de 7 mil desabrigados. Em algumas regiões, os socorristas encerraram as buscas por pessoas soterradas sob os escombros.
Os corpos que foram encontrados nas últimas horas estavam no bairro Curado IV, em Jaboatão dos Guararapes, e na Vila dos Milagres, no Recife. Um grupo menor fazia buscas nos escombros da comunidade do Areeiro, em Camaragibe, e no bairro de Paratibe, em Paulista — todos municípios que fazem fronteira com a capital pernambucana.
Além da destruição, outra preocupação começa a ser avaliada pelas autoridades: o impacto psicológico sobre as pessoas que perderam parentes e bens materiais. De acordo com especialistas em saúde mental, o impacto pode ser o desencadeamento de quadros de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão, assim como episódios de pânico e medo.
Para a psicóloga e psicanalista Cristiane Theiss, pessoas que são vítimas de tragédias como a que devasta Pernambuco sofrem um possível quadro de desequilíbrio mental principalmente porque são surpreendidas pela tragédia. Isso se manifesta, habitualmente, com quem sobreviveu a desastres naturais ou episódios violentos provocados pelo homem — como guerras e ataques à integridade física (como tentativa de homicídio, estupro e sequestro).
“A pessoa está seguindo a vida normalmente e, de repente, tudo que construiu vai por água abaixo. Normalmente, algumas pessoas acabam sofrendo mais e outras, menos. Mas é um grande sofrimento, principalmente porque a pessoa tem que recomeçar, que é difícil em qualquer circunstância — sobretudo depois de uma tragédia”, observou.
Apoio profissional
Theiss enfatiza que é essencial que vítimas dessas situações tenham apoio e acompanhamento de profissionais. “Seja por ter passado por um desastre e ter perdido a casa, seja por ter perdido um parente ou amigo, podemos usar a palavra luto, pois essa palavra se assemelha nos dois casos. O luto de ter perdido uma casa, de ter perdido um ente querido”, afirmou.
Especialistas apontam que a prioridade dos governos federal e estadual, uma semana após a tragédia, deve ser reconhecer a dor das pessoas afetadas e tentar reconstruir a comunidade em que viviam o mais rapidamente possível. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que a tragédia em Mariana (MG), em 2015, ainda repercute negativamente na saúde mental das vítimas e de seus parentes. Os dados indicaram um quadro de depressão em 28,9% das pessoas atingidas diretamente e indiretamente pela destruição.